Tradução do capítulo 2, extraída do livro: " Conhecimento, ensinamento e a morte do misterioso"- de Dennis Klocek ( capítulo 2)
Traduzido por: Maria Cecilia Bonna
1- O que é etérico? Essa é uma questão difícil porque o nascimento da criança no mundo - o nascimento do corpo físico- é acompanhado por forças etéricas vindas do cosmo, as quais trabalharam durante os 9 meses de gestação para formar uma espécie de espaço, no qual todos os padrões dos órgãos, a direção endócrina, as diferenciações entre calor e frio, as membranas, as secreções e uma enorme complexidade de reações químicas, foram de alguma forma coordenadas e integradas dentro desse espaço, com pouca possibilidade para erros. Se realmente pensamos no milagre que significa trazer um embrião ao seu termo, isso é instigante. No entanto, é uma ocorrência diária. Nós olhamos esse milagre e o tomamos quase como prêmio.
2- Esse processo de vir a ser do ser humano, do nada para alguma coisa, é encabeçado e sustentado por forças etéricas. Todo o ser do embrião é rodeado e permeado pelas forças do Ego cósmico- forças de destino, carma, hereditariedade, de tornar-se uma raça em particular, encarnar em uma área geográfica etc. Todas essas forças, são uma espécie de filtro vindo de muito longe no cosmos e poderíamos chamá-la de princípio Egóico ou de Ego. O ego pode ser pensado como uma se fosse uma lente, mas uma lente seletiva que traz forças da periferia e as integra no que podemos chamar de centro relativo. Ele faz isso primeiramente pelos portões dos sentidos. A formação da vida dos sentidos ao redor do embrião, é verdadeiramente orquestrada pelo que mais tarde será chamado de organização do Eu - do lado físico- ou de Eu verdadeiro- no lado cósmico. A organização do Eu no embrião, é a verdadeira responsável pela matéria física das forças organizadoras do cosmo; mas essa responsabilidade física é baseada em padrões de sensação que existem em potencial nos mais distantes recônditos cósmicos. Nós poderíamos dizer que sensação é a matéria prima do cosmos. Nenhum fisiologista pode realmente explicar o que é sensação de uma forma química ou mecânica. Mesmo conhecendo todos os instrumentos e caminhos que a sensação tenha na fisiologia, quando isso vem à tona relacionado com a embriologia ou perguntando como as sensações formam o embrião, ninguém sabe responder. No entanto muitos concordam que as sensações formam o embrião.
3- Existe um artigo no Jornal Sacramento's Bee sobre uma nova teoria que diz: "Sim, os neurônios crescem." Por muitos anos houve a crença de que o ser humano vem com um certo número de neurônios e isso é assim para o resto da vida. Foi descoberto que nos pássaros canoros, parte do cérebro realmente se atrofia a cada estação, mas isso ocorre de forma que um novo canto possa ser aprendido. Os pesquisadores que há vinte anos atrás chegaram à conclusão que os padrões de neurônios não se modificam, agora reverteram essa posição. Eles sabem hoje em dia que os neurônios realmente podem se desenvolver até uma idade avançada, mas isso depende dos efeitos do meio ambiente. Isso é pesquisa de ponta, mas é o que Steiner disse a anos atrás.
4- Poderíamos dizer que o Ego atua, através do portal dos doze sentidos, como uma espécie de filtro ou lente das forças cósmicas. No interior desse portão dos sentidos dentro do organismo, é encontrada a ação do corpo astral cósmico, o movimento dos planetas em frente as estrelas fixas, movimentos que criam volteios, ângulos e formas particulares. Dentro desse reino do Cósmico Astral está o que chamamos de "etérico pessoal" ou "etérico individualizado". É essa força etérica individualizada a qual Steiner sempre se refere quando usa a frase "forças formativas etéricas". São as forças que criam forma. As forças etéricas em si mesmo, são na verdade forças cósmicas. De acordo com Steiner, se a forma do ser humano existisse no seu estado puro, ou seja: nas forças etéricas cósmicas, ela se desintegraria; seria aniquilada.
5- Agora isso parece trazer uma perspectiva contraditória, de um lado as forças etéricas iriam aniquilar a forma humana e de outra perspectiva as forças etéricas estão lá como a fonte de forças esculturais, de construtoras da forma. Isso parece um paradoxo até que desenvolvamos a visão de que todo "CORPO" tal como o Ego, o Astral e o Etérico- todo corpo sutil, tem uma dimensão cósmica e uma dimensão terrena. Na dimensão terrena, essas forças cósmicas, as quais verdadeiramente vivem na periferia do cosmos, vêm ao físico através de um encantamento - poderíamos dizer assim - do Ego e ficam focadas num centro relativo. De lá, essas forças cósmicas começam a criar forma. Elas começam a criar a possibilidade de construção e manutenção da forma. A construção da forma é o trabalho das forças musicais.
6-As forças musicais permitem ao novo ter um lugar para manifestar-se. A criação dos padrões previamente determinados da forma em si mesma ou também de sua ruína, do seu desintegrar- podemos dizer - são o trabalho das forças etéricas. É quando o lado cósmico dessas forças celestiais se submetem à influência ou "encantamento " de um Ego, que surge essa possibilidade de acordar num corpo de carne e ossos. A criança pequena vai de uma existência como ser espiritual, morando entre seres espirituais, isso é um Ego cósmico; e então esse Ego começa sua jornada através das estrelas e planetas, colhendo impulsos dessas estrelas e planetas, impulsos que eventualmente irão tornar-se as reais funções e formas dentro do seu corpo humano. Seres humanos estão no caminho em direção à encarnação. Seres humanos carregam essas forças celestiais e - através dos feitos de Lúcifer e Arimã - focam em tal grau essas forças celestiais num centro relativo, que há a ilusão de que um Eu separado surge.
7- Isso não significa que o Eu de um ser encarnado não tem mais um Eu cósmico transcendente. Isso só significa que a ilusão de um Eu separado torna-se tão presente através do ser Ego, que os adversários ganham acesso a ele através do portão da matéria. A matéria é incorporada a essas forças celestiais e se imprime ao pulmão, fígado, rins e coração, ossos e sentidos e em toda a interação entre a vida dos órgãos e o sentido dos órgãos, como uma imagem de regiões particulares do cosmos. Tudo isso dá ao ser humano a possibilidade de tornar-se um outro pequeno Universo. O potencial humano tem um completo suprimento de forças cósmicas, mas elas foram individualizados a tal ponto, que o ser que ocupa o novo corpo, tem a incrível sensação de que ele é o centro do Universo.
8-Não há nada errado com isso exceto que o plano original era esse: "tão logo surgisse essa percepção (de ser único como eu), existiria imediatamente a percepção complementar de que nossa intrínseca unicidade é aquilo que temos em comum com todo ser humano que diz: EU. " De acordo com Rudolf Steiner esse era o plano original. A função do ser humano era oscilar entre esses dois estados de consciência, como uma espécie de válvula de alívio na reciprocidade entre o Cosmos e a Terra, que permite um respirar entre o Cosmos periférico e o Cosmos central. O corpo etérico de uma criança, sob a influência de um Eu que se encarna no nascimento físico, torna-se então uma espécie de lente ou agente focalizador que toma parte do éter cósmico- podemos dizer que toma parte das estrelas ou da luz das estrelas- e colhe ainda as qualidades terrenas da água, do ar e do fogo que existem nas várias constelações. Como o sol se move através do zodíaco, ele traz- mês a mês- as sucessivas qualidades da terra, água, ar e fogo, para dentro do éter ao redor da terra.
9- O Ego que se encarna, o qual é a imagem do sol movendo-se através do cosmos, foca num centro relativo no embrião, um campo de forças dos quais o embrião participa e usufrui por nove meses. Podemos dizer que os outros três meses que são deixados para trás, são a razão pela qual retornamos ( reencarnamos ) porque não podemos ter verdadeiramente a imagem total do cosmos, em somente uma encarnação. Então, quando retornamos para cada encarnação, teremos reunidos outros três pontos de vista diferentes, que ainda não tivemos oportunidade de vivenciar e trabalhar.
10- Essa atividade do Ego, a qual traz o total reino estelar ao centro, também traz um foco para dentro dos outros corpos sutis. No outro corpo sutil, as forças etéricas individualizadas poderiam ser chamadas de forças etéricas terrenas ou forças etéricas pessoais. Essas forças pessoais etéricas têm a propriedade de ser como a vida das plantas. Plantas têm dois modos fundamentais de ação: Crescem e decrescem ( decaem). Crescimento e queda são as propriedades da vida. Vida é crescimento através de adicionar, adicionar e adicionar. O paradoxo é que a vida também decai através da adição continuada ( tempo). Isso porque se nós ficássemos só conservando essas adições, de repente as dimensões físicas do ser excederiam sua habilidade de manter a integridade da vida.
11 - Isso é chamado na física de " lei da superfície mínima". Isso significa que se você se torna grande demais, tem que se dividir, partir em pedaços. Pensemos numa bexiga. Enchemos a bexiga e continuamos a encher, encher, encher. Enquanto enchemos acontece sempre o mesmo e continua a crescer, crescer e crescer. De repente alguma outra coisa acontece. Isso porque enquanto a massa cresce cubicamente (3 dimensões), a superfície cresce ao quadrado (2 dimensões) e alguma coisa deve ceder. A superfície da membrana então se rompe e o organismo retorna a um estágio mais econômico. O organismo forma pequenas "comissões". É como no organismo escola: ao invés de tentar solucionar tudo na Conferência Interna, formamos comissões e deixamos que cresçam. É exatamente o mesmo processo. Tudo que acontece na vida social é a lei da superfície maior.
12- Na esfera biológica, isso limita o tamanho do crescimento da célula em particular. A célula de um elefante ou de uma baleia, têm o mesmo tamanho de uma célula de camundongo, não há diferença. Só existem mais células. O tamanho da célula é limitado por sua habilidade de manter integridade entre o centro da célula e a sua periferia. A imagem dos Tronos (espíritos da vontade), dos Kiriotetes ( espíritos da forma) e dos Dynamis ( do movimento), surgem novamente. Existe verdadeiramente um enorme crescimento que pode acontecer dentro da célula, até que a membrana se rompa e a célula entre no processo de subdivisão celular. Então surgem duas células de tamanho menor. Aí surgem os Exusiai e a célula pode manter sua integridade. Essas são imagens que poderíamos chamar de leis do etérico, leis que governam tudo, desde a célula individual de nosso corpo, até governos ou revoluções sociais. São imagens do mesmo princípio que vêm da 1ª evolução no velho Saturno.
13 - Nos ensinamentos de Rudolf Steiner, as forças etéricas têm dois parâmetros e um é o que traz forças vitais, forças de crescimento da periferia. (Desenho de um círculo feito com linhas tangentes em um círculo imaginário)
14 - No diagrama acima desenhei um círculo feito de linhas que representam o que Rudolf Steiner chama de forças planas do reino etérico. Ele diz que forças etéricas chegam ao organismo como planos de luz vindos da periferia. A vida chega ao organismo vinda da periferia, do cosmos. O crescimento também chega para o organismo da periferia. Mas junto com o transformado corpo etérico das forças formativas etéricas, essas forças de crescimento tornaram-se tão individualizadas, que uniram-se até às propriedades físicas da matéria tornando-se incorporadas a elas. O que resulta das forças cósmicas originais de crescimento é que repentinamente a matéria empurra e expulsa as forças de crescimento agora individualizadas, como uma onda batendo num navio. Há uma espécie de turbulência. E como as forças de crescimento formam um espaço, a matéria vai para este espaço e o ocupa. Então o que resulta é matéria; e as forças de crescimento se retraem para a periferia para criar outra camada de vida na qual a matéria possa se manifestar. Essa é a forma de crescimento de uma árvore: pelo câmbio ou troca. A troca está na periferia que é onde a vida está. No organismo humano, os sentidos também estão na periferia: os olhos, os ouvidos, a pele, o tato. A força vital - através dos sentidos, da sensação - chega à criança vinda da periferia; como luz estelar espraiando-se através dos portões dos sentidos. Isso é vida cósmica. As forças vitais - vida cósmica- formam os órgãos em padrões estelares da terra, água, ar e fogo; formam o pulmão, o fígado, os rins e o coração. O padrão particular, de cada órgão em particular, é uma imagem do caminho pelo qual os elementos estão trabalhando nesse reino particular. O pulmão é a imagem da Terra, o caminho pelo qual o carbono da Terra une-se com substâncias e depois as dissolve, por exemplo. Essas forças vitais da periferia, entram em contato com a criança pequena através do meio ambiente, através do que eles escutam, vêem, tocam e saboreiam. O humor dos outros seres (adultos) ao redor da criança, também carregam essa força vital na camada periférica que os envolve ( adultos). Crianças pequenas têm uma espécie de clarividência atávica para como os seres humanos, ou os animais, organizam essas forças cósmicas. Eles não escutam muito o conteúdo daquele que fala, mas sim sua voz e intenção. Eles olham o modo para o qual as curvas da face do locutor se animam ou não, o modo como seus membros refletem sua mobilidade e daí constroem seus próprios órgãos dos 0 aos 7 anos. Esse é um pensamento enorme: de que aquilo que está no meio ambiente da criança, do nascimento aos 7 anos, é o que realmente forma seus órgãos vitais através dos portais dos sentidos. Esses órgãos vitais são nutridos pelas impressões sensoriais do meio ambiente.
15 - Agora, na criança entre 0 e 7, o corpo físico nasceu e o corpo etérico foi atraído para ele pelo Eu; mas o corpo etérico ainda não está liberto, ainda não nasceu. Ele continua trabalhando bastante de uma forma cósmica. Podemos dizer que ele está gestando, na criança entre 0 e 7 anos. Ele está plasmando sob as impressões, a vida de impressões que chega dentro do físico e forma os órgãos internos de acordo com os ditames do cosmos. "Agora você precisa formar um fígado. "Agora você precisa formar um pulmão". "Agora um coração..." E podemos pensar que esses órgãos são criados e terminados no embrião, mas não são. Eles são como sementes no feto que chega ao termo após nove meses. Os órgãos ainda estão se revelando. Eles precisam da evolução terrena de forma a realmente experienciar como as forças cósmicas etéricas vêm através do reino dos planetas para formar e criar as formas terrenas do corpo. Esse processo é uma iniciação que a criança pequena passa antes da troca dos dentes, de forma que - mais tarde- quando assumirem o temperamento designado por seu carma, no nascimento do corpo etérico, eles estarão aptos a tomar esse temperamento por um tempo e depois transformá-lo, integrando-o com outros temperamentos. As crianças têm uma intensa iniciação na escola dos seres elementais.
16- A iniciação elemental que eles têm, é a formadora dos seus órgãos vitais, e atua como um processo gestacional no período de 0 a sete anos. Essa iniciação vem através das sensações que eles recebem do meio ambiente. Como resultado, o princípio educativo nesse período é a imitação. Crianças imitam o que está no meio ambiente ao seu redor. Ensinar através do exemplo é a mais efetiva forma de educação do nascimento aos sete anos, porque isso é o imperativo biológico nessa idade. As forças formativas etéricas estão impactando o corpo físico diretamente. Não existe outro tipo de cognição acontecendo, afora o fato de que o cosmos está trabalhando para gestar o corpo etérico. As sensações as quais as crianças experimentam, são nutrição direta para seus órgãos vitais. ( figura de uma grande cabeça )
17 -Agora, nesse diagrama, eu tentei mostrar uma criança dos 0 aos 7 e Rudolf Steiner, em seu livro "Balance in teaching", nos traz uma interessante imagem. Ele diz que o princípio da cabeça é a área onde há o recebimento das forças cósmicas. Porque a cabeça é realmente onde o portal dos sentidos é mais concentrado. Através do ouvir e ver - principalmente- há um influxo, um constante influxo dessas forças etéricas cósmicas, sob a atividade do Ego que é unido com elas. Uma parte do Eu cósmico está construindo a organização do Eu terreno, aquele que será eventualmente o instrumento das forças vitais do parcial Eu cósmico encarnado. A organização do Eu terreno, está sendo construída pelo Eu cósmico ou Eu verdadeiro, através da união de si mesmo com parte das forças formativas etéricas e trazendo-as em contato com o físico. Existe uma espécie de profunda impressão que o Eu verdadeiro faz; essa impressão foca as forças etéricas no físico. Enquanto isso acontece, a atividade é primariamente focada na região da cabeça. Por causa disso, a criança pequena tem uma grande cabeça. Poderíamos dizer de um jeito engraçado que a cabeça são suas antenas; porque a antena ressoa com o sinal e o sinal vem do cosmos. Isso é o que capacita a criança a atrair e captar forças cósmicas, através dos portões dos sentidos. Essa antenas estão localizadas na cabeça- uma imagem do cosmos que se parece mais ou menos com isso. (figura de uma grande cabeça com raios saindo dela)
18- As forças cósmicas chegam à cabeça e se derramam profundamente no resto do corpo. Elas não estão lá presentes da mesma maneira que nas crianças mais velhas, porque nas crianças pequenas - abaixo dos sete anos- o Eu está somente parcialmente encarnado nas forças etéricas. As forças etéricas ainda não estão libertas porque o corpo etérico ainda não nasceu. Mas as forças estão lá trabalhando para fazer os órgãos vitais e completar a sua formação. Assim a imagem é essa: o cosmos - vindo da periferia- trabalhando dentro do físico através dos sentidos, depois se aprofundando e plasmando o fígado, o pulmão, rins, coração etc. Mas fígado, coração, rins e pulmão, estão sendo plasmados de uma maneira bem cósmica. Escondidas na fala, na música e no que é visto no meio ambiente da criança, estão as forças que os estão construindo, formando e estruturando. Junto com isso, essas forças etéricas que chegam ao contato com as forças terrenas, também têm a propriedade de degenerar e destruir, porque o corpo etérico, como já dissemos, é como a planta. A planta cresce e decai e isso é o que o corpo etérico faz também.
19 - Agora chegamos a uma das partes mais difíceis do "Balance in teaching", quando Rudolf Steiner dá a imagem de que o corpo Astral, através das forças musicais, cria o processo que chamamos "edificação". No entanto, em outros lugares, nós veremos que o corpo astral é a fonte das doenças; e isso nos parece contraditório. Mas temos que ser bem precisos quando usamos esses termos, porque eles não são de todo contraditórios. Esses conceitos só requerem, antes de tudo, que se diga: "Isso é sobre o que estou falando nesse estágio em particular; em outro estágio pode mudar algo".
20- Do nascimento aos 7 anos, o corpo etérico- o corpo etérico gestando- domina. O corpo físico é construído de acordo com padrões gestacionais, mas existe uma turbulência nesse mesmo corpo físico durante a gestação. As mulheres grávidas conhecem um pouco dessa turbulência e mudanças na sua vida durante esse período. Do nascimento aos sete anos acontece o mesmo. Há uma certa turbulência no corpo que está sendo gestado; podemos dizer: uma turbulência etérica. Essa turbulência etérica se manifesta na oscilação entre: "Sim, eu sou um anjo"; "Não, não sou nem um pouco anjo"; e isso ocorre entre 0 e 7 anos. Algumas vezes toda a noite, algumas dia a dia. Outras... hora a hora. A oscilação entre as forças cósmicas muito dinâmicas ou padrões e hábitos já encarnados e extremamente fixos, vai e volta. Isso porque o corpo etérico, quando desce do cosmos e torna-se terreno, é a fonte dos nossos hábitos. Quando esses padrões ou hábitos mais tarde se libertam, com o nascimento do etérico, eles serão a fonte do temperamento. O temperamento pode então tornar-se um problema para o Eu, porque as forças etéricas são fixadas nele pelo hábito e estes podem não ter ainda o acesso aos padrões cósmicos, os quais são necessários para manter o organismo saudável. Quando queremos mudar um hábito, é muito difícil fazê-lo. Isso porque o corpo etérico, bem cedo, é formado por padrões particulares de sensação. As forças terrenas que são dadas para este novo ser que se encarna, através das sensações provocadas pelo meio ambiente, formam padrões na vida dos órgãos, os quais mais tarde, irão tornar-se disposição para o temperamento.
21 - Existe uma imagem disto que achei muito útil. É a diferença entre a suspensão e a solução. Se tentamos entender as atividades das forças etéricas formativas, podemos pensar em termos do que é a suspensão. Numa suspensão, existe a matéria suspensa num fluído. Não importa quão física seja a matéria _ podemos pulverizar e pulverizar- se a deixamos parada por um momento, a matéria irá "brigar" nessa suspensão e começará depois a precipitar-se no fundo do recipiente. Essa é a oscilação entre forma e degeneração. Quando um ser está iniciando sua manifestação, ele usa as forças periféricas como um jeito de traçar um projeto. As forças formadoras são pura vida e ainda não foram atraídas para a matéria. Esse é o papel da água na suspensão. Mas então, através da formação contínua e da ação do Eu focado num centro relativo, a matéria é atraída para dentro e se torna substância. Uma vez que a matéria está formada, fica submetida às leis terrenas ( às leis físicas). Então a matéria inicia o processo de construir e ampliar-se, chegando até a lei da superfície mínima e à inevitável erupção da membrana na periferia. E é a implosão dos sistemas. O sistema que foi formado quebra-se em minúsculas e minúsculas partes. Isso é queda. Então as partes voltam para a terra. Na linguagem alquímica isso é chamado de processo salino. O sal entra em solução aparente e eleva-se - através da água- a um estado de leveza. Daí a água se retira e o sal retorna exatamente ao que era. Quimicamente isso é suspensão. Numa verdadeira solução, o sal nunca retornaria do estado líquido. Esse sal que nunca decai, seria a atividade das forças musicais. Isso é o que Steiner chama de elevação. Isso é o que chamamos de "cozinhar". De maneira a fazer isso a matéria tem que ser levada a um nível mais e mais elevado de leveza. Amanhã olharemos mais para isso.
22 - Eu quero trazer essas duas imagens - solução e suspensão- porque elas são úteis quando tentamos imaginar a disposição da criança, o seu modo de ser dos 0 aos 7 anos. Então poderíamos perguntar: Como educadores, o que realmente procuramos? Muito embora não tenhamos uma resposta temperamental - até porque o temperamento ainda não foi realmente formado- há um começo de demonstração de temperamento na formação de um órgão em particular, durante a pré-escola. O 1º colorido do temperamento é dado pelo órgão do corpo que olha para além da vida. Este é o fígado.
23- O fígado é conectado mais diretamente com as forças etéricas de formação e deterioração que chegam ao ser e então retiram-se dele. Isso é a vida do fígado. No feto e durante todo o desenvolvimento pré natal, o fígado e o thimus são - de longe - os órgãos metabólicos mais dominantes do corpo. Se olharmos a evolução biológica dos reinos inferiores e em especial para um animal que é essencialmente fígado, teremos que percorrer uma série de gêneros até chegar ao crustáceo. O 1º animal em que toda a cavidade abdominal é completamente preenchida com o fígado é o lagostim. O gesto anímico desse animal é: "agora estou crescendo"... "agora estou me escondendo, encolhendo". Ele cresce, cresce e cresce e torna-se tão grande que a lei da superfície mínima surge e sua pele tem que romper-se. Ela se rompe e esse animal tão suculento, sai da pele e busca um buraco para enfiar-se até que outra "concha-pele" se forme e ele deixe de parecer tão saboroso. Então há um lado de crescimento e desenvolvimento e outro de encolhimento que diz: "Estou me fechando e indo para meu buraco". Esse é o ritmo do fígado. Vem do fígado uma espécie de imagem do Sol, embora o fígado se relacione diretamente com Júpiter. Mas o ritmo solar é dia e noite, dia e noite, dia e noite. Isto é: deteriorar ( dia) e crescer ( noite).
24- O que podemos chamar de modo de ser do fígado ou do lagostim, é a fonte de oscilação nas crianças pequenas. Elas são doces, delicados e gentis, e subitamente, viram-se e atingem a cabeça da irmãzinha com sua boneca. E nos perguntamos: "Como isso pode acontecer?" Quando o fígado domina a consciência há um tremendo crescimento e depois um completo fechamento e um voltar-se para dentro, um descanso e um "cobrir a cabeça". Poderíamos até chamar de depressão. Se essas forças não são encontradas e harmonizadas do nascimento aos 7 anos, se não existe um ritmo diário, então o fígado, na idade adulta, irá tentar voltar a um estágio de desenvolvimento onde possa encontrar no meio ambiente, forças que permitam a ele aproximar-se do arquétipo cósmico. Ele estará procurando por forças rítmicas no seu meio ambiente, que permitam a ele, mais uma vez, entrar em contato com sua própria vida. A menos que isso seja desenvolvido e nutrido pelo meio ambiente da criança entre 0 e 7 anos, o fígado poderá "minar" o resto do desenvolvimento do temperamento dos 7 aos 14 anos e enfim, irromper no Ensino médio e tornar-se depressão na época da alma do intelecto.
25- Essa é a raiz da depressão. Depressão realmente é uma espécie de urgência por sensação rítmica, por sensação que não é ameaçadora e a qual pode ser assimilada ou, podemos dizer, digerida na vida. Como educadores nós necessitamos ser cuidadosos para que as sensações fortes não venham tão rápido de forma que as crianças não possam digeri-las. Sensações também não podem chegar em conceitos abstratos para as crianças pequenas, pois tão logo os pequeninos sejam desafiados com essas idéias abstratas, haverá uma espécie de concha que se formará ao redor de suas forças vitais. Até em adultos isso acontece. Assim as imagens, movimentos e os sons do meio ambiente das crianças de 0 a 7 anos, precisam ser ritmicamente apresentados com uma sutil percepção de dia e noite, de estação para estação, porque é esse o tipo de força rítmica etérica que o fígado está escutando como uma espécie de digestão cósmica da sensação.
26- Rudolf Steiner dá uma imagem de que o fígado é um órgão que é como a formação de uma cabeça aprisionada. Ele diz isso nas palestras de fisiologia. E quando você lê isso pela primeira vez diz: " Opa! O que significa isso?" Mas se olharmos para a imagem que eu trouxe primeiramente, da cabeça recebendo forças cósmicas através das sensações; e agora olharmos para o lugar em que o fígado surge no embrião nós entenderemos. O fígado surge no embrião como um receptáculo do sistema digestivo. Ele vive na digestão recebendo impulsos do mundo, através da comida digerida que provém da linfa. Ele escuta- por assim dizer- as sensações do mundo nesses fluidos. O fígado repousa entre toda essa linfa, com esse conteúdo de alimento e o recolhe para dentro. Nesse mar de linfa, existe uma tremenda sensação que está sendo provocada e que vem através dos fluidos linfáticos para os nervos simpáticos da criança. Rudolf Steiner conecta o nervo simpático ao corpo etérico e é nesse corpo etérico que os impactos do sistema são registrados. O sistema nervoso simpático traz de volta o equilíbrio ao sistema que foi sobrecarregado, impactado ou estressado. Assim, o sistema nervoso simpático, especialmente no sistema metabólico, é conectado ao movimento dos membros. Ele reage a abruptos movimentos da sensação, espasmódicos, duros, ameaçadores; e isso tudo é registrado na fisiologia da criança, especialmente nos órgãos metabólicos, como uma espécie de distúrbio etérico. O sistema metabólico então secreta linfa e todo o tipo de secreções reativas que obrigam o fígado a questionar: " Isso está certo? O que é isso ? O que está acontecendo? Está tudo bem? Algo está errado..."
27 - O fígado, podemos dizer, torna-se atormentado. Está constantemente pensando que algo está errado. O que deveria ser pensado é: "O que está acontecendo em Júpiter hoje?" Isso é o que o fígado está esperando. Se ele não capta Júpiter, acontece simplesmente que a adrenal e o sistema nervoso simpático ficam bombeando secreções que são as respostas ao estímulo e stress do meio ambiente, e então o fígado se incorpora a esse stress na formação das proteínas, porque o fígado é um órgão etérico das forças formativas. Por ser um órgão etérico, é um órgão escultural. O que ele está esculpindo é a proteína a qual mais tarde se torna fígado, rins, pulmão, coração etc. A forma como ele faz isto é escutando a música cósmica e esculpindo as substâncias que chegam a ele, transformando-as em formas úteis para uma fisiologia particular. Então, de certa forma, o fígado é como uma cabeça aprisionada. O que o etérico está escutando é a música das esferas. Ele usa essa música para criar pequenas imagens de Júpiter ( fígado), de Saturno ( ossos), de Vênus (rins) em nosso corpo. Em " Balance in teaching" e outras literaturas, Rudolf Steiner fala do fígado como um órgão característico que realmente precisa ser pensado com muita profundidade pelo professor de jardim. Toda a fisiologia e toda a vida interior da alma que a criança de 0 a sete anos está trazendo para a Terra, é baseada em uma clarividência interior sobre o que está ocorrendo nas secreções dos fluídos do corpo.
28- O Ego move-se em direção à criança que se encarna. Em sua vida interior, a criança principia a ter memórias de viver entre as estrelas. O meio ambiente impacta seus sentidos. As crianças são parcialmente acordadas, mas não conscientemente acordadas, de como as sensações do meio ambiente adentram nelas e são refletidas pelo seu corpo físico. As sensações do meio ambiente saltam de volta, porque o corpo etérico é muito flexível e fluido. Elas saltam de volta ao cósmico astral. A música das esferas e o cósmico astral dizem:" Eu não reconheço isso( as sensações), não sei o que é. Você pegue isso de volta." E reflete o meio ambiente personalizado por padrões sensórios, de volta para o etérico. E - de repente - o etérico é tomado nessa oscilação entre o astral cósmico e o corpo físico. O corpo etérico não sabe o que fazer com as forças personalizadas. O que ele faz então, é tecer um modelo de movimentos oscilatórios. Esse modelo é chamado adrenalina ou testosterona, ou secreção tireoidiana, ou sucos digestivos. As secreções corporais são uma espécie de modelos de movimentos fixos dos padrões de estímulo-resposta- uma só parte em um milhão de adrenalina no sangue, proveniente dos rins: e todo o corpo estará em turbulência por 15 minutos. A secreção é um movimento individualizado. É uma substância que é um movimento cósmico concentrado. A criança de 0 a 7 anos, está atuando segundo os padrões de suas secreções. É isso que Rudolf Steiner está dizendo. O meio ambiente impacta seus órgãos. O órgão vital tenta acomodar a sensação personalizada, mas como o melhor caminho que ele conhece é criar secreção, que é uma imagem do movimento criativo, ele a envia para o sangue como imagem desse movimento. Por isso pode-se dizer que a criança ouve o seu próprio processo encarnatório, através do corpo etérico. É a criança cósmica de 0 a 7 anos, e ela reproduz o que o padrão estímulo-resposta seria no modo particular do órgão que está secretando. Isso, na linguagem antroposófica pedagógica é chamado de fantasia.
29- A vida de fantasia da criança é dirigida pelas sensações que estão impactando o corpo etérico; e esse corpo etérico terreno está criando secreções com imagens originadas dos padrões cósmicos formativos. Assim, se há uma reprodução de atuação, o professor olha para o meio ambiente e tenta criar - especialmente para o fígado - uma espécie de massagem rítmica. Dia após dia, após dia, após dia, as coisas são apresentadas e mudadas só um pouquinho e mais um pouquinho, sempre construindo de uma maneira rítmica e permitindo que claras imagens entrem no sono, imagens que possam adormecer com ele. Quanto mais clara for a imagem, mais o fígado pode captá-la. O fígado tem uma consciência um tanto embaçada. Podemos dizer que ele não é totalmente cônscio de si mesmo. É muito mais desperto para o que está chegando a ele. Como resultado, você pode remover ¾ do fígado e ele se regenera. Isso é uma tremenda vitalidade. A característica da vida ( vitalidade) é que ela cresce e se degenera, mas não é incrivelmente consciente ( ou auto-cosnciente). Então, durante a fase de 0 a 7 anos, há uma imensa vitalidade se espraiando através dos sentidos das crianças. A fantasia surge na criança como uma resposta para essas sensações. O educador que olha para o meio ambiente e para o ritmo da sensação, tem que manusear esse ambiente da melhor forma, para ser capaz de curar esse ritmo do fígado de acordar, dormir e sonhar - dia após dia, após dia.
30- Quando isto acontece no meio ambiente da criança, não haverá uma fome por fantasia quando ele tiver 35 anos. Eles não sucumbirão à grande tentação de lutar para superar,( sobrepujar) a pessoa que está ao seu lado de forma a inundar a ambos com excesso de sensações. A grande luta dos adultos hoje, é transformar - de alguma forma- sua sensibilidade, de maneira a tornarem-se mais conscientes de que são cidadãos do Cosmos, tanto quanto cidadãos da Terra.
Retirado do site: http://www.espacobemviver.com.br/biblioteca.asp?pTexto=1