domingo, 25 de novembro de 2012

Pessoal,

Inspirada com o III congresso de Medicina Antroposófica da Zona da Mata Mineira  vamos recordar os 9 setênios:
 
 
Primeiro Setênio – 0 a 7 anos

É na primeira infância, mais precisamente durante os primeiros 7 anos, que as forças da individualidade estão localizadas na cabeça, e a tarefa neste período, é crescer, desenvolver os órgãos físicos que estão sendo formados, independizar o pólo superior do corpo, do pensar.

Com o nascimento, tem início o trabalho da individualidade, daquele ser cósmico que começará uma vida terrestre de transformação do invólucro corpóreo recebido dos pais, apto às suas necessidades. Portanto, neste período, a individualidade se ocupará em se apropriar do corpo herdado, moldando-o e reestruturando-o conforme suas peculiaridades interiores.

A criança, por assim dizer, reforma, refina seu instrumento físico, que é a corporalidade. Essa transmutação significa, aos poucos, eliminação das substâncias herdadas, desde as células mais microscópicas, que se tornam cada vez mais individualizadas, até os dentes, que são as mais duras do corpo, quando no final dessa etapa, a criança perde a dentição de leite, substituindo-a pela permanente, que é aquela que construiu a partir de sua interioridade.

Olhando, para os nossos sentidos, que, com exceção do tato que permeia todo o corpo, estão localizados na cabeça, podemos ter uma idéia dos aspectos que devem ser cuidados neste período inicial, para que a criança possa gostar de estar na Terra, dentro de seu próprio corpo.

Assim, para a construção do corpo físico de forma equilibrada, a criança deveria ter vivências permeadas por situações e circunstâncias que a levassem a perceber que o mundo é bom.

À essa criança, deveriam ser providas oportunidades de movimento livre no espaço, na medida em que vai se apropriando dele ao longo de seu desenvolvimento, desde possibilitar o engatinhar quando é bebê, até trepar em árvores e correr no campo quando é maior.

É por experimentação que a criança aprende, por tentativa e erro, e pelo princípio da imitação. O que não queremos que ela faça, não deveríamos também fazer, pois ela seguramente imitará gestos, fala, atitude dos adultos ao seu redor.

Rapidamente as faculdades humanas vão sendo adquiridas, quando, aos 3 anos a criança já conquistou o espaço físico com o andar, o espaço social com o falar, e o espaço espiritual, com o pensar.

Em síntese, neste primeiro setênio os princípios são :

· imitação

· bondade

· órgãos dos sentidos

· desenvolvimento do pensar

· processo de individuação física


Segundo Setênio – 7 a 14 anos

Ao final do processo anterior, do 1o. setênio, as forças que estavam na cabeça se libertam e migram para a região do meio do corpo.

A criança vai acordando de cima para baixo, na direção da cabeça aos pés, e, nesta fase agora, coração e pulmão são os órgãos que ancoram o processo respiratório com o mundo.

O elemento do movimento de interiorização e exteriorização pauta a dinâmica desses órgãos e a relação da criança com o mundo.

Ela já não é mais um grande A, aberta para o mundo que a impregna, mas agora já possui uma interioridade maior e necessita de um elo de ligação entre o mundo de fora e o seu, interno.

O papel do adulto, pais e professores, tem uma grande influência neste período, pois é através dele, da autoridade que ela necessita e que eles possuem, que a criança receberá a imagem do mundo.

Portanto, os valores e ideais que o adulto possui pode beneficiar ou prejudicar a formação e visão do mundo infantil.

Se a autoridade é excessiva pode gerar uma maior inspiração do que expiração, desequilibrando o ritmo, e isso pode levar desde a uma timidez no futuro, à introversão, ou quadros somáticos de asma, etc.

Se, por outro lado, há falta de autoridade, se ela é insuficiente para o estabelecimento de normas tão essenciais neste período, a expiração maior pode conduzir à extroversão exagerada, que leva a criança a desconhecer seu limite e o do outro, até quadros mais histéricos, de dissolução da identidade.

Esses elementos precisam estar em harmonia para nos sentirmos bem e, se na fase correspondente à esses acontecimentos isto não ocorreu, é introduzindo o ritmo na vida do presente que se resgata o equilíbrio.

Assim como as normas, os hábitos estão sendo absorvidos, e portanto, a dosagem entre uma educação muito rígida ou muito liberal, deveria ser observada, pois tanto a imposição quanto a ausência de valores pode impedir um desenvolvimento sadio.

Nesta fase, onde o sentir está sendo tecido, a fantasia é muito importante, e daí a qualidade de imagens que a criança pode entrar em contato é fundamental; situações onde ela pode criar, como ouvindo estórias infantis, contos de fadas, ou mesmo brincar com brinquedos que promovam a sua participação, é muito diferente daquelas onde, por exemplo, ela é mera expectadora, como no caso da televisão, ou de jogos e brincadeiras que não estimulem a sua criação, com brinquedos prontos, acabados, sintéticos.

Arte e religião são também fundamentais para a alma da criança que anseia por veneração. Assim, tanto o mundo artístico quanto o religioso são ricos em possibilidades para fazer fluir a alma infantil para o mundo. Como há uma busca natural pela beleza e pela fé, vivências do belo são fundamentais para um respirar com o mundo, assim como o desejo pela ligação com uma qualidade superior, elevada e espiritualizada consigo mesmo e com a vida.

É então que, no meio desta fase, o sentimento de diferenciação, por assim dizer, se estabelece fortemente, e a criança percebe com verdadeiro sentimento e uma espécie de dor, que existem diferenças: de educação entre si e os irmãos, diferenças de tratamento entre as pessoas, de raça, religião, cultura, enfim, situações onde ela se dá conta de que o mundo não é igual para todo mundo, que a lei não é a mesma para todos.

É, na verdade, um profundo despertar do sentimento próprio.


Terceiro Setênio – 14 a 21 anos

Seguindo o sentido descendente das forças que do Cosmo vão se encarnando na Terra, neste período elas chegam aos membros; passaram da cabeça ao peito, e agora acordam e se localizam nos membros, no sistema metabólico motor.

Se observamos a postura da criança pequena, percebemos que ela anda meio que suspensa, pendurada; depois, um pouco maior, ela pula, e na adolescência, se arrasta, e neste caminho da humanização, aos poucos conquista a postura ereta.

Então, da mesma forma que o princípio da imitação regia a criança de 0 a 7 anos, o princípio da autoridade de 7 a 14 anos, agora o princípio da liberdade é o regente.

O processo de metamorfose do ser humano o leva agora a necessitar do aprendizado através da liberdade, onde vivências da verdade são fundamentais – assim como a vivência do bom no 1o.  setênio, e do belo no 2o. setênio.

A sociedade agora desempenhará um papel mais preponderante, assim como no passado o foram a família e a escola. É sempre uma ampliação da atuação de elementos, e não uma exclusão daqueles que já foram prioritários.

O jovem necessita de um espaço libertador externo e interno, pois nesta fase, vivenciará uma grande tensão, uma luta entre as forças cósmicas e terrestres, onde no palco está em jogo a sua identidade. É natural que, na busca de si mesmo, ele rompa com os esquemas vigentes em casa, na escola e na sociedade, e a forma, nesta época, é através de crítica, em movimentos abruptos e acusativos, sendo muito pouco provável um processo harmonioso.

O adolescente vivencia o âmago de seu ser, e o impulso da vontade, da ação é que vigora - por as coisas para fora é a palavra de ordem. Espinhas e desejos saem em borbotões, ele quer dar a sua opinião em tudo, modificar o mundo, reformar a família, os hábitos e costumes vigentes.

É uma força interior que quer se expandir no mundo, e a maneira de lidar com ela é através do diálogo, do encontro, da troca de opiniões, onde o jovem pode expor seus pensamentos e sentimentos, assim como ouvir seu ressoar no mundo.

No centro da luta entre estas forças, o adolescente vivencia duas polaridades intrigantes: o desejo por um mundo ideal, que corresponda ao que ele enxerga de mais puro na imagem do ser humano, e o desejo pelas coisas mais terrestres, que atuam de forma incisiva sobre sua sexualidade pelos prazeres terrenos, os prazeres da carne.

Ele busca no mundo representações desta vivência ideal e mundana ao mesmo tempo, ele tem sede espiritual e física.

E assim, fica então vulnerável a todas as espécies de filosofias, na esperança de encontrar aquela que corresponda à sua realidade interna – é nesse período que precisa romper com as crenças familiares, ou, pelo menos, questionar as existentes; se os pais são católicos, ele buscará o espiritismo, protestantismo, budismo, e vice-versa, do mesmo jeito que fará com a comida, com a roupa, com a postura, com os gestos.

As drogas representam, nesta época, uma possibilidade de encontro com este mundo idealizado, ou fuga da angústia de não poder encontrá-lo. É importante que saibamos que é uma fase extremamente difícil, onde o adolescente precisa negar e se opor, para que, a partir da percepção do que não é, encontrar-se a si mesmo. Não sabe que ao longo de toda a sua vida buscará, de formas diferentes, a mesma coisa, e que as pessoas que o cercam, e que percebe como sendo tão prontas e acabadas, vivem o mesmo conflito.

O 'nó lunar' aos 18 ½ anos, quando o sol e a lua se encontram na mesma configuração do nascimento, propicia uma abertura, uma ligação cósmico terrestre, que nos dispõe a vislumbrarmos o real sentido de nosso destino.

É a partir desta idade que começamos a ter um pensamento mais autônomo, ainda que, nesta época, acreditemos estar amadurecidos para efetuar julgamentos.

Há também o questionamento profissional, quando o jovem se pergunta sobre seu caminho e escolhas.

A opção entre o que lhe foi imposto e o que quer, cria rupturas. Buscar a si mesmo e descobrir o que é seu, o que é do outro, o que pode ser compartilhado, propicia ao jovem conhecer novas paragens e alargar seu horizonte antes de completar a idéia e impressão sobre si mesmo, que aos 21 anos se realizará com mais firmeza.


Quarto Setênio – 21 a 28 anos

Retomando a idéia do homem como cidadão de dois mundos, o celeste e o terrestre, e a vida como uma conversa, um encontro destas duas forças, chega-se aos 21 anos de vida com o fim da fase do crescimento corporal, e princípio da auto-educação.

Aqui, de uma forma geral, as forças completaram e estiveram a serviço do desenvolvimento físico, e o homem emancipa-se de uma educação herdada; ele chega nesta idade com um patrimônio: um corpo adulto e uma estória pessoal, familiar, escolar.

Aos 21 anos, a entidade psíquica individual, o “Eu” começa realmente a se formar. Uma parte supra-sensível do ser humano, mais exterior, é desperta, acordada, e é aquela que está em contato com o mundo exterior – e por isso mesmo, muito mais impressionável por ele.

O ser humano, nesta fase, depende muito da aprovação de fora, e funciona em altos e baixos, deixando-se influenciar pelo externo, e a luta é não se deixar impregnar demasiadamente, paralisar ou impedir-se de viver emoções - neste período a vida está para isto. São momentos fortes, onde temos que pesar e refletir sobre o que herdamos, olhar para o que ganhamos e o que temos, e avaliar deste patamar o que serve aos nossos propósitos de vida, o que devemos incrementar e do que podemos abrir mão – valores que nos serviam até então, mas que a partir de agora podem impedir nossa própria evolução, assim como uma roupa fora de moda, que não combina ou não cabe mais.

Em olhando o que recebemos, devemos avaliar o que pode e o que deve ser mudado em favor do nosso próprio caminhar.

Temos que ter a flexibilidade e habilidade para nos despojarmos daquilo que não nos identificamos mais, da mesma forma como temos que nos reconciliar com o que não dá muito para mudar, por exemplo, com a constituição física. Na verdade, esse é o começo de um processo que vamos depurar a vida inteira.

Com o “EU” mais livre do trabalho no corpo físico, e agora ocupado com a constituição da alma, temos então maior distanciamento daquele, e por isso podemos vê-lo deste novo ângulo.

Portanto, concretamente nesta fase, podemos estar:

-procurando emprego

-terminando a faculdade

-namorando /noivando /casando

-iniciando nova constituição familiar

-tendo filhos

-estabelecendo as bases para a sobrevivência financeira


Quinto Setênio – 28 a 35 anos

A fase do 5o. setênio começa com uma das grandes crises na vida, por volta dos 28 anos, onde somos reivindicados a uma emancipação da imagem que até então tínhamos de nós mesmos, da nossa própria vida, dos nossos talentos, enfim, da nossa identidade.

A sensação anterior de ser dono do mundo sofre um abalo e o que toma o seu lugar, é uma sensação de angústia, de vazio, de desconhecimento de si mesmo, e insatisfação. Sentimo-nos impotentes nesta passagem da juventude para a maturidade, de um viver mais impulsivo para um viver mais sério, responsável.

Temos a sensação de que nada que aprendemos ou fizemos, tem muito mais valor, sentimo-nos incapazes de termos idéias, e começamos a viver ao nível da alma um tipo de espelhamento, o mesmo sofrimento vivido no corpo físico enquanto adolescentes até 14 anos.

Vivemos intensamente a influência dos ritmos cósmicos, que na verdade, buscam conectar-nos e alinhar-nos com nossa real intenção pré-natal.

Temos então o 30o ano, que coincide com a passagem das forças de Saturno e nos cobra estrutura, bases, pilares, e no corpo, corresponde aos nossos ossos, o que há de mais duro no organismo humano.

Temos, logo após, o 31 ½ ano, que corresponde à metade do 63o. ano de vida, marca final das atuações planetárias e zodiacais. Depois dessa idade, ficamos mais livres.

E para completar, o 33o. ano, que pontua o máximo de encarnação do homem na Terra, e ano da morte de Cristo. Sentimos o sofrimento da densidade, do espírito aprisionado na matéria, da via crucis.

Em verdade, a vivência desse período é sentida como uma morte e, realmente, para podermos nos individualizar e tornarmo-nos autônomos, precisam morrer valores que não mais correspondam ao “EU” verdadeiro, para que o ego dê lugar à esta individualidade, esteja a seu serviço, evolua, se integre a ela.

O sentimento de ressurreição ocorre quando, passando pelas provações, percebemo-nos mais inteiros e vivendo de acordo com um código de leis mais próprio, uma renovação moral a partir de uma maior interiorização, uma libertação do velho e disposição para o novo.

Portanto, concretamente nesta fase podemos estar:

-tendo crises no casamento, fazendo separações ou novas uniões.

-tendo rupturas no trabalho ou vendo-o sob novas perspectivas

-buscando o isolamento

-trocando o círculo da amizades


Sexto Setênio – 35 a 42 anos

· Relação com a Essência no mundo / No outro / Em si

· Mais capacidade de julgamento

· Desgaste físico x Maturidade Psíquica

· Conquista de mundo material

· O desafio é encontrar valores espirituais

· A pergunta é: como é que encontro o caminho para a essência do mundo e para a minha própria essência?

Chegamos aos 35 anos e entramos na formação da alma da consciência, última fase do desenvolvimento da alma propriamente dita, onde o Eu adentra mais profundamente na corporalidade supra-sensível. E nesse sucessivo despertar da alma, sentímo-nos levados a uma busca ao essencial no mundo, no outro, em nós mesmos.

O mundo material teve já suas conquistas, construímos uma carreira, relações, família e, de repente, atentamos para a importância do mais recôndito nos seres ao nosso redor, no sentido do que fizemos, nas leis que regem o mundo.

A vida exige que demos um passo do anímico ao espiritual, e, como as forças atuam no pólo superior do corpo, sentimos que conseguimos ver mais verdadeiramente do que até então, a real natureza das coisas.

A capacidade de julgamento aumenta e se torna mais livre dos invólucros superficiais, que a visão das fases anteriores possuía.

Vivencia-se um novo nascimento, precedido pela morte e o vazio dos velhos princípios. Reinicia um período de percepção dos limites e aceitação de si mesmo. Nos tornamos mais disponíveis para o mundo, porque deixamos gradativamente de nos ocupar conosco mesmos. É o desabrochar do desenvolvimento espiritual que chega quando o homem vai chegando aos 40 anos e ele se questiona se há ainda algo de novo que possa ser vivido. Começa a se perguntar sobre sua missão na vida. Sente aos poucos que algo está por vir, e acontece um verdadeiro renascimento, quando se julgava tudo pronto e definido.

A aceitação do desgaste físico, e a busca de um ritmo adequado se faz necessário para que a consciência se amplie em todas as direções.

A relação com a vida é mais intensa, lapidada e autêntica, e é grande a possibilidade de vivência como ser espiritual, de se reconhecer como entidade espiritual incorporada.


Sétimo Setênio – 42 a 49 anos

Como um novo recomeço, a entrada nesta fase traz a vivência interna de que algo novo necessariamente há de vir.

Percebe-se que, como está, não dá para ficar ou continuar, e que a vida dá sinais de grande mudanças, as pessoas sentem algo de novo em si.

O princípio desta fase coincide com o final do período mais quente e ensolarado da vida, a saber, os últimos 20 anos; os próximos setênios correspondem ao desenvolvimento da natureza espiritual do homem, assim como o período anterior ao desenvolvimento da alma, e o primeiro, ao desenvolvimento físico.

A entrada nos 40 traz, quase que inevitavelmente, uma crise existencial, e como é uma fase que espelha fisiologicamente os 14 – 21 anos, vários fatores da adolescência influenciam nesta época. Eclode uma necessidade de rejuvenescimento que pode tomar as mais variadas formas na mulher e no homem.

A desvitalização do corpo físico gera medos reais do envelhecimento e da morte. As mulheres, próximas da menopausa, percebem que o corpo não é mais rijo como antes, que o rosto fica enrugado de um jeito difícil de dissimular, e então as plásticas imperam. Os homens sentem que as pernas afinaram, que a barriga cresceu muito, e então o cooper e as academias de ginástica e musculação desempenham seu papel.

A preocupação com a perda da beleza física e da sexualidade existe, podemos cuidar de manter o corpo bonito e sadio porque é ele o instrumento espiritual na Terra, mas os artifícios para a manutenção física não deveriam impedir ou tomar o lugar da beleza interior.

As forças desprendidas dos órgãos sexuais e da reprodução podem ser metamorfoseadas em criatividade, o elemento central dessa fase, imagens criadoras, renovadoras.

Além dos artifícios para a manutenção do corpo físico, existem também os artifícios que emergem como saída para a manutenção da vida emocional, que são o álcool e a cocaína.

Com a sensação de perda de força e de morte, o ser humano, nesta etapa da vida, pode ter muitas depressões e se apegar ao que é velho e conhecido no trabalho, nas relações familiares e pessoais, numa tentativa de manter intacto o que já têm.

As mudanças que a vida pede, geram muitas inseguranças que impedem o indivíduo de abrir mão do que é velho, como valores, preconceitos, papéis, e ir de encontro ao renascimento que o espera.
É com muita dificuldade e sofrimento que esta etapa é transposta para conseguirmos vislumbrar os frutos que possuímos para doar.

A resistência a mudanças impede o indivíduo de desenvolver talentos que ficaram para traz, tesouros que ficaram escondidos, e reativá-los.

E para complicar a falta e os excessos desta fase, há a questão do sósia, da sombra, daquilo que encarna no parceiro, no patrão, nos filhos, enfim, que é tão difícil de lidar, porque está diretamente ligado aos aspectos pessoais não resolvidos, não integrados.

As forças do sósia se tornam extremamente intensas em torno dos 40 anos. São aspectos para os quais somos levados a hostilizar, ou nos identificar cegamente, por uma força que se ergue em nós. Em geral, nos confrontamos com o sósia do outro, já que a própria sombra é difícil de ver.

Assim, grandes confusões, agressões e descasamentos acontecem, porque as relações ficam contaminadas por aquilo que se vê no outro, que é profundamente unilateral – algo expurgado daquilo em nós que não admitimos, não conseguimos lidar, mais o do outro.

Projetamos nossos aspectos indesejáveis e/ou renegados no outro, e somos vulneráveis à sua sombra – seus vícios, manias, defeitos, enfim.

Se não trabalharmos conscientemente na relação, e procurarmos ver a essência do outro, sua inteireza, o sósia, ou seja, a soma de todas as qualidade negativas comanda.

Temos que nos esforçar para integrarmos nossa sombra à nossa personalidade, e não alimentá-la, deixando que a força da raiva, da inveja, do desprezo, dominem a situação.

Há que se desenvolver muita calma interior!

Devemos ter em mente que tudo o que fazemos contra a vontade é alimento para o sósia.

E fica, então, difícil reconhecer nele uma oportunidade para a transformação de seu conteúdo.

A sombra e a luz são condições inerentes à existência humana, e uma, certamente, não existe sem a outra na vida terrena.


Oitavo Setênio – 49 a 56 anos

A entrada nos 50 anos equivale à época mediana do desenvolvimento do espírito, e por isso mesmo, para aquele que vive espiritualmente, a mais tranquila e produtiva da vida.

As forças, que na fase anterior estavam se desprendendo da região metabólica e dos órgãos correspondentes, estão agora se libertando da área mediana do corpo, coração e pulmão, e se dispondo para uma moralidade e uma ética de qualidade superior, refinada, mais humanizada.

É a época da vida denominada jupteriana, pois possibilita uma visão mais ampla e geral da própria estória, do desenvolvimento da humanidade, do sentido das coisas, da existência.

Os valores pessoais deveriam agora dar lugar a valores mais humanitários, e a preocupação se concentrar na família universal e não apenas na individual.

Dependendo da evolução do ego do indivíduo, ele pode dispor da sua sabedoria para o mundo, ou continuar apegado às próprias necessidades ou às do grupo familiar, desconhecendo a maravilha que é colocar seu patrimônio interior a serviço do mundo.

É a fase do pai e da mãe universal.

Como esta fase espelha fisiologicamente o setênio 7 a 14 anos, o elemento do ritmo tem de ser priorizado, e os órgãos rítmicos, assim como o ritmo cotidiano, têm de ser cuidados, preservados e respeitados.

É comum o aparecimento de problemas respiratórios, principalmente se a relação respiratória com o mundo foi difícil na pré puberdade; stress e enfarte também ocorrem.

Deve-se procurar um novo ritmo biológico mais adequado às características físico emocionais.

A vida nos ensina nesta época uma nova audição, temos a possibilidade de ouvir a voz do coração para esta renovação ético / moral que agora é propícia.

No concreto, neste período ocorrem as aposentadorias, o que por sua vez traz o sentimento de inutilidade e vazio.

Há que se preparar para esse momento e refletir no que se fará após, planejar a vida para o depois desse acontecimento, afim de não ser uma passagem muito brusca que pode assustar e  levar o indivíduo a exceder no trabalho para ainda se sentir útil e não velho, impotente, incapaz.

A sociedade como um todo ainda valoriza muito a força biológica e não tem olhos e condições de discernimento para as capacidades de liderar dos 50 anos, e, sobretudo, de abençoar, principalmente aqueles que puderam, entre 7 e 14 anos, aprender a venerar.


Nono Setênio – 56 a 63 anos

Os mesmos órgãos dos sentidos que foram as portas para a entrada na vida terrestre no 1º setênio, vão, aos poucos, se tornando portas de saída; não se vê, nem se ouve tão bem como antigamente, o paladar já não consegue sentir direito o gosto dos alimentos, os cheiros e as texturas não são mais sentidos tão intensamente.

A vida começa a dar sinais de que o ser humano têm agora que ir-se voltando para dentro de si mesmo, internalizar-se, desenvolver os sentidos espirituais.

O portal de comunicação com o mundo externo começa a se fechar.

Como um eremita, a partir desta fase, necessitamos da auto reflexão na busca da nossa essência, para o desenvolvimento de intuições a partir da força do amor que torna-se então a representante do verdadeiro e supremo conhecimento.

O 56º ano de vida traz uma brusca mudança que é sempre crítica, pois penetra-se numa esfera onde tudo parece ter que morrer para depois ressuscitar de uma forma muito sofrida.
Por vezes tem-se a sensação de fracasso de tudo aquilo que se desejou, e que nada do que se almejou foi alcançado.

Questiona-se muito o que se realizou no passado, e se torna importante avaliar o que ainda deseja realizar, o que pode e o que não pode mais ser realizado pela própria condição desvitalizadora, pelo tempo.

Certos cuidados se fazem muito importante, como a estimulação da memória, mudanças de hábitos, recursos criativos.

O trabalho é importante na vida, mas não deve ser a única fonte de realização pessoal. Pessoas excessivamente voltadas para o trabalho tornam-se resistentes às mudanças, perdem a visão global, sentem-se ameaçadas e, muitas vezes, são menos produtivas e criativas do que aquelas que possuem outras fontes de realização.

Aquelas que, além do trabalho, lecionam, tocam algum instrumento, freqüentam outras atividades e amigos, realizam viagens com certa dose de aventura, se dedicam a um hobby, praticam esporte, escrevem textos, crônicas ou livros, enfim, são pessoas com uma visão do mundo, de seu trabalho e da própria vida muito mais rica e feliz.

Caminhando para a terceira idade, e mais livre dos compromissos da 1ª e da 2ª, temos a chance de rever o que ficou de lado e que, com frequência, dá novo sentido à vida. Entregar-se ao que pede para ser vivido com satisfação, de maneira renovada, e ao mesmo tempo, livrar-se do inútil e supérfluo que se carrega por hábito.

Inclusive de preconceitos, pois vivemos em uma época com tantos recursos para a renovação do corpo e da alma, que deveríamos fazer bom uso do livre arbítrio e decidir que rumo tomar no caminho do amor, do encontro com outros seres humanos, da alegria de viver.

Como tudo no Universo está em constante transformação, e nada é estável e permanente, somente existe possibilidade de evolução onde há possibilidade de mudança.

Após os 63 anos, o ser humano vai, cada vez mais se libertando das leis e ritmos do destino.

O envelhecer vai chegando com o florescimento interno que é percebido no olhar do idoso que vive muito mais em uma realidade supra sensível do que sensível – para além dos sentidos.

O corpo vai ficando mais leve e transparente, o espírito se torna mais visível, os “avós” irradiam aquela força onde o sol interior consegue aparecer.

Por Eliane Utescher
 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE

 VITOR M. C. FERREIRA DA SILVA1
(Versão 1.0 de 30/3/01 - uma nova versão, ampliada, está em preparação)

Apesar da maior atenção que a comunidade médica vem dando aos aspectos emocionais e mentais como sendo extremamente importantes na gênese ou desencadeamento de inúmeras doenças, é ainda, por vezes, muito difícil ao médico estabelecer com o paciente uma boa relação, sem dúvida proveitosa para ambos. A formação e o modo de atuação do médico estão, hoje, permeados de tal forma por uma mentalidade tecnicista que, na prática, o médico acaba por encarar o corpo humano quase como sendo apenas uma máquina, e suas desordens – doenças – como situações decorrentes de desarranjos anatômicos, fisiológicos ou bioquímicos, de origem genética ou adquirida, passíveis então de uma abordagem terapêutica voltada apenas ao organismo físico. Essa mentalidade, não raro, gera situações em que encontramos grande dificuldade em fazer com que o paciente admita que os aspectos mentais são importantes no desencadeamento de sua doença. É de suma importância, portanto, quando nos defrontamos com tais situações, sabermos encontrar o caminho para tornar o paciente não apenas informado intelectualmente a respeito, mas também motivado, seguro, animado, participando então como um todo com sua mente (seu intelecto), seu coração (sua capacidade de sentir) e sua vontade (sua determinação em agir). Só assim estaremos propiciando a instituição de processos terapêuticos que possam realmente levar à cura do paciente, na medida em que o mesmo passa a participar ativamente do processo.
Obviamente não há como criar esquemas prontos para que possamos envolver os pacientes dessa forma participativa aqui exposta, pois cada paciente e cada médico são indivíduos com características próprias. Quero então focar alguns princípios básicos que possibilitem a cada colega encontrar o seu caminho e a sua forma de atingir essa meta. O pré-requisito é uma relação médico-paciente bem construída, a partir de um contato em que o médico transmita simpatia, acolhimento, confiança, segurança e apoio. O paciente que se encontre envolvido por essas qualidades certamente acolherá de forma receptiva o que lhe for informado e proposto.
Inicialmente devemos estabelecer um bom "rapport" ("entrar em sintonia") com o paciente. É necessário saber questionar com paciência e respeito, ouvindo e demonstrando interesse. Precisamos validar as informações trazidas pelo paciente, ou seja, ele precisa perceber que acreditamos em sua história e que valorizamos e entendemos seus sentimentos e necessidades. Para isto é importante ter toda a atenção voltada ao paciente, percebê-lo emocionalmente, estar, metaforicamente, "dentro da sua pele", estar em sintonia com seu ritmo (o que significa não "atropelá-lo"), estar atento ao seu tempo, e também buscar uma sintonia afetiva com o mesmo, de modo a que ele sinta no médico alguém que sabe o que ele está sentindo.
Gostaria aqui de pontuar e comentar algumas das necessidades das pessoas quando buscam um relacionamento, e que, portanto, são fundamentais na relação médico-paciente:

  • Segurança: é a necessidade de se sentir seguro em relação ao outro. O paciente precisa ter certeza de que encontrará no médico alguém que possa dar proteção às suas necessidades, podendo, sem medo, expor-se física e psicologicamente.
  • Validação: é a afirmação da importância da pessoa dentro de um relacionamento. É importante, para o paciente, que suas necessidades sejam reconhecidas como verdadeiras e aceitas pelo médico.
  • Aceitação: é a necessidade de o paciente sentir-se aceito por uma outra pessoa estável, confiável e protetora, presente na figura do médico.
  • Confirmação da experiência pessoal: é o desejo de estar à frente de alguém que é semelhante, que compreende, como se tivesse vivido situações parecidas.
  • Auto-definição: é a necessidade de reconhecimento e aceitação da própria identidade, percebendo, então, que o médico o reconhece como indivíduo e aceita a sua história.
  • Impacto sobre a outra pessoa: é a necessidade de que, na relação, a outra pessoa se sensibilize; é o paciente ver que o médico não está distante e insensível. Demonstrar compaixão se o paciente está triste, fornecer proteção e segurança se ele está assustado, leva-lo a sério se está com raiva, ou compartilhar se o mesmo está alegre.
  • Iniciativa: estar diante de alguém que toma iniciativas, indicando caminhos, telefonando, se necessário, para ter notícias, etc.
  • Todas essas necessidades podem ser resumidas no anseio que todos temos por afeto. É importante que o médico saiba expressar compaixão para com o paciente. Também é importante que o médico saiba aceitar a expressão de reconhecimento que seus pacientes manifestam através de gestos que simbolizem agradecimento ou afeto.

    Outro passo importante é saber avaliar as expectativas do paciente em relação ao médico, a si mesmo e à doença, e procurar saber o grau de entendimento do paciente sobre sua doença.

    Um recurso útil, também, é observar o temperamento do paciente. Pacientes coléricos (determinados, dominadores, impulsivos) tendem a dominar a situação. Se as colocações do médico contrariam as expectativas ou idéias que têm a respeito, podem contra-argumentar ou não aceitar tais colocações. Se o médico insiste podem mesmo não seguir as orientações prescritas, e acabam, por vezes, buscando outro profissional que corrobore suas idéias. Vale a pena, nessas situações, propor desafios, convidar a pensar a respeito, conduzir o diálogo de modo a que o paciente se sinta estimulado a pensar de outra forma e a observar novos aspectos relacionados a si mesmo e à sua doença. Pode ser que esta técnica exija um tempo maior ou mesmo novas consultas. Pacientes fleumáticos (tranqüilos, observadores, passivos, dedutivos), costumam aceitar colocações, mas pensam metódica e cuidadosamente a respeito, refletem, procuram novos dados que lhes permitam avaliar melhor a situação, e talvez necessitem também de um tempo maior para digerir tudo o que ouviram. É importante que o médico lhes disponibilize todos os dados e informações dos quais sintam necessidade. Em relação aos melancólicos (sensíveis, emotivos, intuitivos, geralmente desenvolvendo relacionamentos pouco numerosos porém profundos) há que ter muito cuidado no modo de informá-los, sobretudo quando as informações podem gerar algum tipo de medo ou ansiedade, pois tendem a ficar deprimidos. É muito importante que os pacientes se sintam seguros de que o médico é alguém com quem podem contar, e que lhes oferecerá todos os recursos possíveis e necessários para lidarem com a sua situação. Precisam de proteção. Já os sanguíneos (lábeis, sedutores, atraentes, de relacionamentos fáceis e numerosos, porém tendendo a superficiais) provavelmente aceitarão facilmente os argumentos e orientações do médico, o que não quer dizer que estarão realmente convencidos de tudo o que o médico disse, e talvez não sigam de forma correta as orientações, alegando esquecimento, falta de tempo ou excesso de atividades, entre várias possíveis desculpas. Se o médico identifica nele a predominância deste temperamento, é importante não contrapor comportamentos críticos, mas buscar, de forma paciente e firme, que o paciente se conscientize da situação, determinando-se a seguir a orientação. Obviamente é difícil encontrarmos pacientes que manifestem polarmente apenas um dos quatro temperamentos descritos, porém há quase sempre a predominância de um, e saber como lidar com eles amplia em muito nossas chances de sucesso.

    É também importante pensar na forma como podemos informar o paciente sobre a relação existente entre os aspectos emocionais e sua doença. Podemos informá-lo diretamente, e isto talvez seja o que muitos pacientes esperam. Podemos também levá-lo a deduzir essa relação, oferecendo-lhe informações mais ou menos detalhadas. Uma forma seria começar lembrando que a pele pode expressar sinais e sintomas (p.ex. rubor, calor, palidez, frio, arrepios, sudorese) que podem representar emoções (vergonha, raiva, medo, alegria, tristeza, afeto), e que isto representa um fenômeno fisiológico com mecanismos bem conhecidos. Do mesmo modo doenças se manifestam por influência mental, através de mecanismos fisiológicos que vem sendo cada vez mais conhecidos. Podemos também estabelecer comparações com outras doenças, em outros órgãos e sistemas, que conhecidamente têm influência mental (p.ex.: gastrite, úlcera péptica, diarréia, constipação, hipertensão arterial, angina, cefaléia, etc.). Podemos, enfim, ajudar o paciente a perceber que a doença é um sinal: ela simboliza algo que no fundo (no seu EU) o indivíduo sabe, e descobrir isto pode possibilitar a descoberta da real causa da doença, ou dos fatores que a estão desencadeando. A doença cumpre então seu papel pedagógico: mostrar que algo não está bem e possibilitar uma mudança. Isto pode exigir um trabalho terapêutico muitas vezes interdisciplinar, com recursos que o médico deve saber indicar e coordenar (por exemplo a psicoterapia, eurritmia, terapia artística, quirofonética, massagem rítmica e aplicações externas entre outras).

    É importante, neste momento, observar algumas situações onde a relação médico-paciente estará prejudicada, dificultando a informação e o envolvimento do paciente em um processo terapêutico:

    1. Quando o médico se vê em uma posição superior à do paciente. Pode então assumir posturas autoritárias, prepotentes. Tende a estar desatento e desqualificar o paciente. O médico pode dar orientações que acabam por resultar ineficientes, porém transfere ao paciente a culpa pelo fracasso, justificando com o argumento de que "só estava querendo ajudá-lo".

    2. Quando o médico demonstra falta de segurança e determinação, podendo até mesmo deixar-se conduzir pelo paciente. Tentando demonstrar eficiência, porém sem real comprometimento com o paciente, o médico pode dar orientações que resultam ineficientes.

    3. Quando o médico se revela desinteressado e sem perspectiva.Para concluir, a situação ideal é observada quando o médico coloca a serviço do paciente todo o seu conhecimento, sua atenção, sua disposição em ouvir, em compreender e ajudar, ao mesmo tempo em que considera o paciente como aquele que mais conhece a respeito de sua doença, pois a experiência de vivê-la é dele. Desse encontro (consulta) resultará uma troca, e ambos sairão enriquecidos.

    Leituras sugeridas:1. Berne E. Os Jogos da Vida. Rio de Janeiro: Editora Artenova S.A., 1977.

    2. Berne E. O que você diz depois de dizer olá? São Paulo: Nobel, 1988.

    3. Crema R. Análise Transacional centrada na pessoa ... e mais além. São Paulo: ÁGORA, 2a ed., 1985.

    4. Crema R. Saúde e plenitude: um caminho para o ser. São Paulo: Summus, 1995.

    5. Cunha, MGGC, Crivellari, H. Caminhando com a Psicoterapia Integrativa. Belo Horizonte: Cultura, 1996.

    6. Erskine RG. Theories and Methods of an Integrative Transactional Analysis. San Francisco: TA Press, 1997.

    7. Glas N. As Mãos Revelam o Homem. São Paulo: Editora Antroposófica, 1988.

    8. Glas N. Os temperamentos. A Face Revela o Homem – II. São Paulo: Editora Antroposófica, 1990.

    9. Gupta MA, Gupta AK. Psychodermatology: An update. J Am Acad Dermatol 1996; 34(6):1030-46.

    10. Steiner R. O mistério dos temperamentos. As bases anímicas do comportamento humano. São Paulo: Editora Antroposófica, 1994.

    - - - -1Médico Dermatologista com Orientação Antroposófica da Clínica Tobias.

    Assistente do Serviço de Dermatologia do Hospital Municipal de Campinas "Dr. Mário Gatti".

    End.: R. Bagé, 45 ap. 31 – V. Mariana – S. Paulo – SP

    Fone-fax: (11) 55793406 – vitorsil@terra.com.br

    FONTE: http://www.sab.org.br/med-terap/art-vitor.htm

    terça-feira, 22 de maio de 2012

    Anthroposophische Pflege


    Pessoal,

    Vale a pena entrar no site "

    Anthroposophische Pflege 

    Quem se propõe a traduzir os textos? Envie  para nós  caso consiga!

    sábado, 7 de abril de 2012

    PÁSCOA

    Recados
    A Páscoa é uma festa repleta de imagens fortes e marcantes. No hemisfério sul, ela ocorre no outono, no primeiro domingo após a primeira lua cheia. A Páscoa é sempre comemorada no domingo, mostrando uma relação com o Sol, astro que rege esse dia da semana, mas também tem relação com a Lua cheia, lembrando que a lua não tem luz própria, apenas reflete a luz do sol.
    Antigamente, porém, ela acontecia apenas no hemisfério norte, na época da primavera, quando as pessoas ainda tinham grande relação com as forças da natureza. Naquela época, sobreviver ao rigor do inverno era um grande desafio, e chegar à primavera era motivo de grande celebração.  Era nesta época do ano que a vida recomeçava, as cores retornavam, tudo desabrochava. Era a vitória da vida sobre a morte.
    A palavra Páscoa, vem do hebraico, PESSACH, que significa passagem. Quando Moisés desafiou o faraó e conduziu seu povo rumo à Terra Prometida libertando-os da escravidão. Neste fato histórico, mais uma vez ocorreu a vitória da vida sobre a morte.
    Na tradição cristã, a Páscoa novamente ocupa uma importância fundamental. Após os quarenta dias da quaresma e depois de refletir sobre os acontecimentos vivenciados por Jesus Cristo durante a Semana Santa (domingo de ramos, condenação da figueira, encontro com adversários no templo, unção, santa ceia e lava pés, morte, descida ao reino dos mortos e ressurreição), os cristãos comemoram, no domingo de Páscoa, a glória da ressurreição de Cristo.
    Com sua paixão, morte e ressurreição, Cristo deixou-nos o precioso legado de uma nova vida após a morte, e quando seu corpo e sangue penetraram nas profundezas da terra ela se torna um centro de luz, vivificada pelo Eu do Cristo. Diante desta consciência, podemos refletir sobre nossas atitudes perante esta Terra, nosso planeta, tão sagrado.
    Outra imagem, que claramente mostra à idéia de vida, morte e ressurreição é a metamorfose da lagarta em borboleta, representando a morte do corpo, a transformação e o renascer. A imagem arquetípica da borboleta que, quando lagarta, fecha-se num escuro casulo deixando a luz e o calor transformarem sua existência em cor e leveza.
    O coelho e os ovos também possuem um significado especial nas comemorações pascais. O ovo representa uma vida interior, ainda em estado germinal, que se desenvolve, rompe uma casca dura e em seguida desabrocha em sua plenitude, assim como Cristo ressuscitado saiu de sua tumba. O coelho, por sua vez, representa um animal puro, digno de carregar e trazer os ovos da Páscoa. Além disso, é um animal muito fértil, que se reproduz com facilidade.
    Atualmente, porém, a Páscoa, assim como as outras festas anuais, não é encarada sob um ponto de vista espiritual. Na maioria das vezes, não vivenciamos a possibilidade de deixar morrer em nós o que não queremos mais, o que já não nos serve, e também não permitimos que o novo em nós possa florescer. Deveríamos ter claro dentro de nós a possibilidade da vida, morte e ressurreição de hábitos, atitudes e modos de pensar, para tornarmos pessoas melhores, menos endurecidos e insensíveis diante da realidade atual, com seus constantes altos e baixos. Se tivermos consciência da necessidade de cada um realizar este exercício interior, poderemos então resgatar o real sentido da Páscoa. 
    FELIZ PÁSCOA PARA TODOS NÓS!

    quarta-feira, 14 de março de 2012

    MARAVILHAR-SE: um bálsamo para o coração!

       Pense numa lua linda, enorme, alaranjada surgindo lá no horizonte; ou naquele por do sol e seus reflexos dourados no mar; ou naquele buquê de rosas colombianas vermelho – carmim recebidas do ser amado; naquele despertar ouvindo somente o vento e o canto de um bem-te-vi; naquele cheiro de café e de bolo assando que lhe serão brindados pela manhã; naquele sabor inigualável de fruta madura ou daquele jantar à luz de velas; daquela idéia magnífica que desencadeou um bom negócio; aquele encontro há tanto tempo esperado; aquela viagem passando por lugares inesquecíveis; aquele dia da formatura; a passagem pelo vestibular; a comunicação de ter sido aprovado para aquela vaga; ou sua promoção tão esperada; o nascimento do 1° filho....; ou uma música, um filme, uma paisagem, ou simplesmente um gesto gentil, um sorriso, um abraço, ah! Que delícia, que bom, que lindo, dizemos suspirando...
    Muitas outras coisas poderiam ser elencadas nesse rol de belezas, atos e delícias, que têm o poder de nos maravilhar! É um estado de encantamento que noz faz vibrar internamente e permeia nosso corpo todo com a mais genuína alegria!
    Mas, como isso acontece? O que seria acionado em nosso ser mais íntimo que parece derramar um bálsamo quente a preencher todo nosso coração?!
    O ser humano é o único com essa capacidade: MARAVILHAR-SE!
    Isso acontece bem dentro do peito e aponta para onde o ser humano é realmente humano: a região do MEIO, onde estão o coração e os pulmões. É o habitat da condição humana por excelência – O SENTIR . Portanto esses dois órgãos (coração e pulmões) são os verdadeiros responsáveis pela nossa qualidade mais elevada – a faculdade do Sentir. É bem verdade que o Pensar também é exclusivamente humano e é ele quem recebe as impressões do mundo externo e as organiza através dos sentidos e suas conexões neurológicas; porém quem dá o “sentido” e “identifica” essas impressões como simpáticas ou antipáticas, impulsionando nosso AGIR, é nosso SENTIR. Esse espaço é a morada do nosso EU - o responsável pela maneira singular de cada um ver e viver o mundo.É para lá que levamos nossa mão para nos designarmos quando nos apontamos – EU? É comigo?
    Perceba-se a qualidade que esses dois órgãos carregam, ou seja, pulmões e coração são os responsáveis pelos nossos sentimentos, ou melhor, por discerní-los e identificá-los. Não por acaso, temos hoje um grande número de doenças cardíacas no mundo todo, sendo o coração, o campeão de mortes (por doença).
    Esse processo provavelmente está ligado à dificuldade atual do homem em deixar-se invadir e aprender a compreender seus sentimentos naturalmente, como o faz com o PENSAR.
    O privilégio cultural do Pensar e da razão, encobre até mesmo o aprendizado do sentir. Sim, sentir também se aprende, se organiza através de experiências bem conduzidas desde a infância. É nosso dever oferecer esse suporte às crianças e jovens no sentido de dar-lhes segurança para um sentir sadio.
    Por outro lado, sabemos que o 1° e primordial sentimento que nasce na criança, é a gratidão – a partir dessa qualidade se assentam os outros sentimentos. Para isso, a infância precisa ser um período onde se vivencia que o mundo é bom e confiável (especialmente nos primeiros 7 anos). Amor, carinho, compreensão são fundamentais para esse despertar. A ausência desses parâmetros talvez aponte para um caminho que desembocará, mais tarde, em violência e/ou apatia.
    Cuidemos de apresentar maravilhas aos nossos filhos – não somente as físicas, mas também aquelas derivadas de pequenos gestos, cuidados, estímulos... Assim estaremos alimentando sua condição humana, oferecendo-lhes a possibilidade para desenvolverem a solidariedade, a compaixão, a coragem, o que deve ser feito através de nosso exemplo.
    Em tese, também estaremos construindo bons corações e pulmões saudáveis.
    Quando alguém “suspira” : Oh! que maravilha, é como se recebesse um sopro quente, acalantado pelo próprio criador, quase num sussurro particular, exclusivo, instilando dentro de cada alma, um pouco mais de calor, humano!
    Maravilhar-se é saber-se divino.
    Maravilhar-se é preciso!
    Refletir é preciso!
    Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa é médica Pneumologista com formação em Antroposofia/Biografia Humana. Mestre em Ciências da Educação. Docente/coordenadora do curso de pós-graduação - Antroposofia na Saúde. Presidente da Liga dos Usuários da Medicina e Terapias Antroposóficas.Diretora Clínica do Lucas Terapeuticum Desenvolvimento Humano.
    emarasca@splicenet.com.br

    sábado, 25 de fevereiro de 2012

    Salutogênese



    Salutogênese é o conceito, criado pelo pesquisador Aaron Antonovsky em 1979, para designar as forças que geram saúde, e se opõem à patogênese, ou seja, às influências que causam a doença. Segundo Antonovsky, caso fossem potencializadas as forças que se opõem ao estímulo causador de doença, seria possível evitar que as pessoas adoecessem. Portanto, ele propunha formas de estimular e preservar esta força, através da ciência, pela chamada salutogênese.
    Antonovsky chamou de 'senso de coerência' o fundamento da salutogênese. Senso de coerência significa um estado de harmonia e bem-estar com o meio social, familiar e consigo mesmo. O autor descreveu isso como 'uma sensação de orientação global, sentimento dinâmico de autoconfiança, gerado no meio interno e externo, que forma um ambiente saudável, de alta probabilidade de êxito na vida'.
    Trabalhos posteriores sobre o mesmo assunto, basearam o senso de coerência num tripé: significado, flexibilidade e estímulo. Significado são os valores sociais e pessoais que alicerçam a sociedade, associados à potencialidade de troca de informações e a reconstrução desses valores que surge nas relações. Flexibilidade é o potencial de adaptação, seja do indivíduo, seja da sociedade, para haver uma harmonia entre ambos. Estímulo representa tudo aquilo que funciona como força motriz para os indivíduos e a sociedade, e dessa forma aproxima as pessoas da vida, do trabalho, da família e da sociedade como um todo.
    O trabalho de Antonovsky, assim como o conceito de salutogênese, tem sido utilizado pelos pesquisadores que trabalham com qualidade de vida, para definir quais as áreas que são críticas para que o índivíduo sinta-se bem e saudável. A Organização Mundial da Saúde, ao redefinir saúde como sensação de bem-estar físico, psíquico e social, tem trabalhado no mesmo sentido. Os pesquisadores que desenvolvem esses conceitos, dividiram o bem-estar em vários domínios, que incluem trabalho, vida pessoal e familiar, hábitos de vida e espiritualidade. Esses cientistas, assim como outros das áreas de medicina psicossomática e neurociências do comportamento, têm aplicado a teoria da salutogênese.
    Entretanto, apesar de bem discutida do ponto de vista teórico, a salutogênese ainda carece de uma sofisticação em suas ações práticas. É nesse campo que muitas medicinas complementares têm encontrado espaço para ampliar o seu papel na área de saúde. Diferentes da medicina convencional, que necessita da presença de doença e de um diagnóstico para atuar, as complementares exibem métodos terapêuticos voltados para o equilíbrio do indivíduo saudável. Essas técnicas podem contribuir para prevenir doenças e gerar bem-estar, em consonância com a teoria da salutogênese. Assim, vários autores publicaram artigos nas áreas de medicina chinesa, medicina ayurvédica, osteopatia, naturopatia, yoga, medicina tibetana e homeopatia, relacionado essas técnicas com salutogênese. Sem dúvida as medicinas tradicionais e técnicas complementares de saúde poderão ajudar muito a ampliar a salutogênese, promovendo bem-estar, estimulando a coerência do indivíduo consigo mesmo, e reforçando seus valores fundamentais.
    Entre todas as medicinas complementares, a que mais se identificou com o conceito de salutogênese foi a medicina antroposófica. As ações de buscar a saúde através do significado, da flexibilidade e do estímulo, são bem semelhantes às propostas do filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861–1925 - fundador da antroposofia), fator funcionou como elo de aproximação. Steiner também valoriza muito, em seu trabalho, as relações sociais e a vida espiritual como suportes para a saúde e instrumento de cura. Tudo muito semelhante com as propostas de Antonovsky. Por isso, os médicos antroposóficos foram os que mais publicaram e desenvolveram idéias nesse campo, nos últimos anos.

    A conclusão dos pesquisadores é que, reforçando os valores fundamentais do ser humano, como as relações familiares, a espiritualidade, hábitos de vida saudáveis, acesso à informação e isso associado à prática regular de métodos para voltar ao equilíbrio e proteger-se contra o estresse, está criado o ambiente ideal para a salutogênese. Nesse ambiente, fica muito reduzido o campo para alguma doença se instalar. Por isso, ações dessa natureza podem evitar uma porcentagem significativa de muitos dos males que nos afligem hoje em dia.
    Fonte: http://www2.uol.com.br/vyaestelar/salutogenese.htm

    quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

    A criança do nascimento aos sete anos

    Tradução do capítulo 2, extraída do livro: " Conhecimento, ensinamento e a morte do misterioso"- de Dennis Klocek ( capítulo 2)

    Traduzido por: Maria Cecilia Bonna

    1-  O que é etérico? Essa é uma questão difícil porque o nascimento da criança no mundo - o nascimento do corpo físico- é acompanhado por forças etéricas vindas do cosmo, as quais trabalharam durante os 9 meses de gestação para formar uma espécie de espaço, no qual todos os padrões dos órgãos, a direção endócrina, as diferenciações entre calor e frio, as membranas, as secreções e uma enorme complexidade de reações químicas, foram de alguma forma coordenadas e integradas dentro desse espaço, com pouca possibilidade para erros. Se realmente pensamos no milagre que significa trazer um embrião ao seu termo, isso é instigante. No entanto, é uma ocorrência diária. Nós olhamos esse milagre e o tomamos quase como prêmio.

    2- Esse processo de vir a ser do ser humano, do nada para alguma coisa, é encabeçado e sustentado por forças etéricas. Todo o ser do embrião é rodeado e permeado pelas forças do Ego cósmico- forças de destino, carma, hereditariedade, de tornar-se uma raça em particular, encarnar em uma área geográfica etc. Todas essas forças, são uma espécie de filtro vindo de muito longe no cosmos e poderíamos chamá-la de princípio Egóico ou de Ego. O ego pode ser pensado como uma se fosse uma lente, mas uma lente seletiva que traz forças da periferia e as integra no que podemos chamar de centro relativo. Ele faz isso primeiramente pelos portões dos sentidos. A formação da vida dos sentidos ao redor do embrião, é verdadeiramente orquestrada pelo que mais tarde será chamado de organização do Eu - do lado físico- ou de Eu verdadeiro- no lado cósmico. A organização do Eu no embrião, é a verdadeira responsável pela matéria física das forças organizadoras do cosmo; mas essa responsabilidade física é baseada em padrões de sensação que existem em potencial nos mais distantes recônditos cósmicos. Nós poderíamos dizer que sensação é a matéria prima do cosmos. Nenhum fisiologista pode realmente explicar o que é sensação de uma forma química ou mecânica. Mesmo conhecendo todos os instrumentos e caminhos que a sensação tenha na fisiologia, quando isso vem à tona relacionado com a embriologia ou perguntando como as sensações formam o embrião, ninguém sabe responder. No entanto muitos concordam que as sensações formam o embrião.

    3- Existe um artigo no Jornal Sacramento's Bee sobre uma nova teoria que diz: "Sim, os neurônios crescem." Por muitos anos houve a crença de que o ser humano vem com um certo número de neurônios e isso é assim para o resto da vida. Foi descoberto que nos pássaros canoros, parte do cérebro realmente se atrofia a cada estação, mas isso ocorre de forma que um novo canto possa ser aprendido. Os pesquisadores que há vinte anos atrás chegaram à conclusão que os padrões de neurônios não se modificam, agora reverteram essa posição. Eles sabem hoje em dia que os neurônios realmente podem se desenvolver até uma idade avançada, mas isso depende dos efeitos do meio ambiente. Isso é pesquisa de ponta, mas é o que Steiner disse a anos atrás.

    4- Poderíamos dizer que o Ego atua, através do portal dos doze sentidos, como uma espécie de filtro ou lente das forças cósmicas. No interior desse portão dos sentidos dentro do organismo, é encontrada a ação do corpo astral cósmico, o movimento dos planetas em frente as estrelas fixas, movimentos que criam volteios, ângulos e formas particulares. Dentro desse reino do Cósmico Astral está o que chamamos de "etérico pessoal" ou "etérico individualizado". É essa força etérica individualizada a qual Steiner sempre se refere quando usa a frase "forças formativas etéricas". São as forças que criam forma. As forças etéricas em si mesmo, são na verdade forças cósmicas. De acordo com Steiner, se a forma do ser humano existisse no seu estado puro, ou seja: nas forças etéricas cósmicas, ela se desintegraria; seria aniquilada.

    5- Agora isso parece trazer uma perspectiva contraditória, de um lado as forças etéricas iriam aniquilar a forma humana e de outra perspectiva as forças etéricas estão lá como a fonte de forças esculturais, de construtoras da forma. Isso parece um paradoxo até que desenvolvamos a visão de que todo "CORPO" tal como o Ego, o Astral e o Etérico- todo corpo sutil, tem uma dimensão cósmica e uma dimensão terrena. Na dimensão terrena, essas forças cósmicas, as quais verdadeiramente vivem na periferia do cosmos, vêm ao físico através de um encantamento - poderíamos dizer assim - do Ego e ficam focadas num centro relativo. De lá, essas forças cósmicas começam a criar forma. Elas começam a criar a possibilidade de construção e manutenção da forma. A construção da forma é o trabalho das forças musicais.

    6-As forças musicais permitem ao novo ter um lugar para manifestar-se. A criação dos padrões previamente determinados da forma em si mesma ou também de sua ruína, do seu desintegrar- podemos dizer - são o trabalho das forças etéricas. É quando o lado cósmico dessas forças celestiais se submetem à influência ou "encantamento " de um Ego, que surge essa possibilidade de acordar num corpo de carne e ossos. A criança pequena vai de uma existência como ser espiritual, morando entre seres espirituais, isso é um Ego cósmico; e então esse Ego começa sua jornada através das estrelas e planetas, colhendo impulsos dessas estrelas e planetas, impulsos que eventualmente irão tornar-se as reais funções e formas dentro do seu corpo humano. Seres humanos estão no caminho em direção à encarnação. Seres humanos carregam essas forças celestiais e - através dos feitos de Lúcifer e Arimã - focam em tal grau essas forças celestiais num centro relativo, que há a ilusão de que um Eu separado surge.

    7- Isso não significa que o Eu de um ser encarnado não tem mais um Eu cósmico transcendente. Isso só significa que a ilusão de um Eu separado torna-se tão presente através do ser Ego, que os adversários ganham acesso a ele através do portão da matéria. A matéria é incorporada a essas forças celestiais e se imprime ao pulmão, fígado, rins e coração, ossos e sentidos e em toda a interação entre a vida dos órgãos e o sentido dos órgãos, como uma imagem de regiões particulares do cosmos. Tudo isso dá ao ser humano a possibilidade de tornar-se um outro pequeno Universo. O potencial humano tem um completo suprimento de forças cósmicas, mas elas foram individualizados a tal ponto, que o ser que ocupa o novo corpo, tem a incrível sensação de que ele é o centro do Universo.

    8-Não há nada errado com isso exceto que o plano original era esse: "tão logo surgisse essa percepção (de ser único como eu), existiria imediatamente a percepção complementar de que nossa intrínseca unicidade é aquilo que temos em comum com todo ser humano que diz: EU. " De acordo com Rudolf Steiner esse era o plano original. A função do ser humano era oscilar entre esses dois estados de consciência, como uma espécie de válvula de alívio na reciprocidade entre o Cosmos e a Terra, que permite um respirar entre o Cosmos periférico e o Cosmos central. O corpo etérico de uma criança, sob a influência de um Eu que se encarna no nascimento físico, torna-se então uma espécie de lente ou agente focalizador que toma parte do éter cósmico- podemos dizer que toma parte das estrelas ou da luz das estrelas- e colhe ainda as qualidades terrenas da água, do ar e do fogo que existem nas várias constelações. Como o sol se move através do zodíaco, ele traz- mês a mês- as sucessivas qualidades da terra, água, ar e fogo, para dentro do éter ao redor da terra.

    9- O Ego que se encarna, o qual é a imagem do sol movendo-se através do cosmos, foca num centro relativo no embrião, um campo de forças dos quais o embrião participa e usufrui por nove meses. Podemos dizer que os outros três meses que são deixados para trás, são a razão pela qual retornamos ( reencarnamos ) porque não podemos ter verdadeiramente a imagem total do cosmos, em somente uma encarnação. Então, quando retornamos para cada encarnação, teremos reunidos outros três pontos de vista diferentes, que ainda não tivemos oportunidade de vivenciar e trabalhar.

    10- Essa atividade do Ego, a qual traz o total reino estelar ao centro, também traz um foco para dentro dos outros corpos sutis. No outro corpo sutil, as forças etéricas individualizadas poderiam ser chamadas de forças etéricas terrenas ou forças etéricas pessoais. Essas forças pessoais etéricas têm a propriedade de ser como a vida das plantas. Plantas têm dois modos fundamentais de ação: Crescem e decrescem ( decaem). Crescimento e queda são as propriedades da vida. Vida é crescimento através de adicionar, adicionar e adicionar. O paradoxo é que a vida também decai através da adição continuada ( tempo). Isso porque se nós ficássemos só conservando essas adições, de repente as dimensões físicas do ser excederiam sua habilidade de manter a integridade da vida.

    11 - Isso é chamado na física de " lei da superfície mínima". Isso significa que se você se torna grande demais, tem que se dividir, partir em pedaços. Pensemos numa bexiga. Enchemos a bexiga e continuamos a encher, encher, encher. Enquanto enchemos acontece sempre o mesmo e continua a crescer, crescer e crescer. De repente alguma outra coisa acontece. Isso porque enquanto a massa cresce cubicamente (3 dimensões), a superfície cresce ao quadrado (2 dimensões) e alguma coisa deve ceder. A superfície da membrana então se rompe e o organismo retorna a um estágio mais econômico. O organismo forma pequenas "comissões". É como no organismo escola: ao invés de tentar solucionar tudo na Conferência Interna, formamos comissões e deixamos que cresçam. É exatamente o mesmo processo. Tudo que acontece na vida social é a lei da superfície maior.

    12- Na esfera biológica, isso limita o tamanho do crescimento da célula em particular. A célula de um elefante ou de uma baleia, têm o mesmo tamanho de uma célula de camundongo, não há diferença. Só existem mais células. O tamanho da célula é limitado por sua habilidade de manter integridade entre o centro da célula e a sua periferia. A imagem dos Tronos (espíritos da vontade), dos Kiriotetes ( espíritos da forma) e dos Dynamis ( do movimento), surgem novamente. Existe verdadeiramente um enorme crescimento que pode acontecer dentro da célula, até que a membrana se rompa e a célula entre no processo de subdivisão celular. Então surgem duas células de tamanho menor. Aí surgem os Exusiai e a célula pode manter sua integridade. Essas são imagens que poderíamos chamar de leis do etérico, leis que governam tudo, desde a célula individual de nosso corpo, até governos ou revoluções sociais. São imagens do mesmo princípio que vêm da 1ª evolução no velho Saturno.

    13 - Nos ensinamentos de Rudolf Steiner, as forças etéricas têm dois parâmetros e um é o que traz forças vitais, forças de crescimento da periferia. (Desenho de um círculo feito com linhas tangentes em um círculo imaginário)

    14 - No diagrama acima desenhei um círculo feito de linhas que representam o que Rudolf Steiner chama de forças planas do reino etérico. Ele diz que forças etéricas chegam ao organismo como planos de luz vindos da periferia. A vida chega ao organismo vinda da periferia, do cosmos. O crescimento também chega para o organismo da periferia. Mas junto com o transformado corpo etérico das forças formativas etéricas, essas forças de crescimento tornaram-se tão individualizadas, que uniram-se até às propriedades físicas da matéria tornando-se incorporadas a elas. O que resulta das forças cósmicas originais de crescimento é que repentinamente a matéria empurra e expulsa as forças de crescimento agora individualizadas, como uma onda batendo num navio. Há uma espécie de turbulência. E como as forças de crescimento formam um espaço, a matéria vai para este espaço e o ocupa. Então o que resulta é matéria; e as forças de crescimento se retraem para a periferia para criar outra camada de vida na qual a matéria possa se manifestar. Essa é a forma de crescimento de uma árvore: pelo câmbio ou troca. A troca está na periferia que é onde a vida está. No organismo humano, os sentidos também estão na periferia: os olhos, os ouvidos, a pele, o tato. A força vital - através dos sentidos, da sensação - chega à criança vinda da periferia; como luz estelar espraiando-se através dos portões dos sentidos. Isso é vida cósmica. As forças vitais - vida cósmica- formam os órgãos em padrões estelares da terra, água, ar e fogo; formam o pulmão, o fígado, os rins e o coração. O padrão particular, de cada órgão em particular, é uma imagem do caminho pelo qual os elementos estão trabalhando nesse reino particular. O pulmão é a imagem da Terra, o caminho pelo qual o carbono da Terra une-se com substâncias e depois as dissolve, por exemplo. Essas forças vitais da periferia, entram em contato com a criança pequena através do meio ambiente, através do que eles escutam, vêem, tocam e saboreiam. O humor dos outros seres (adultos) ao redor da criança, também carregam essa força vital na camada periférica que os envolve ( adultos). Crianças pequenas têm uma espécie de clarividência atávica para como os seres humanos, ou os animais, organizam essas forças cósmicas. Eles não escutam muito o conteúdo daquele que fala, mas sim sua voz e intenção. Eles olham o modo para o qual as curvas da face do locutor se animam ou não, o modo como seus membros refletem sua mobilidade e daí constroem seus próprios órgãos dos 0 aos 7 anos. Esse é um pensamento enorme: de que aquilo que está no meio ambiente da criança, do nascimento aos 7 anos, é o que realmente forma seus órgãos vitais através dos portais dos sentidos. Esses órgãos vitais são nutridos pelas impressões sensoriais do meio ambiente.

    15 - Agora, na criança entre 0 e 7, o corpo físico nasceu e o corpo etérico foi atraído para ele pelo Eu; mas o corpo etérico ainda não está liberto, ainda não nasceu. Ele continua trabalhando bastante de uma forma cósmica. Podemos dizer que ele está gestando, na criança entre 0 e 7 anos. Ele está plasmando sob as impressões, a vida de impressões que chega dentro do físico e forma os órgãos internos de acordo com os ditames do cosmos. "Agora você precisa formar um fígado. "Agora você precisa formar um pulmão". "Agora um coração..." E podemos pensar que esses órgãos são criados e terminados no embrião, mas não são. Eles são como sementes no feto que chega ao termo após nove meses. Os órgãos ainda estão se revelando. Eles precisam da evolução terrena de forma a realmente experienciar como as forças cósmicas etéricas vêm através do reino dos planetas para formar e criar as formas terrenas do corpo. Esse processo é uma iniciação que a criança pequena passa antes da troca dos dentes, de forma que - mais tarde- quando assumirem o temperamento designado por seu carma, no nascimento do corpo etérico, eles estarão aptos a tomar esse temperamento por um tempo e depois transformá-lo, integrando-o com outros temperamentos. As crianças têm uma intensa iniciação na escola dos seres elementais.

    16- A iniciação elemental que eles têm, é a formadora dos seus órgãos vitais, e atua como um processo gestacional no período de 0 a sete anos. Essa iniciação vem através das sensações que eles recebem do meio ambiente. Como resultado, o princípio educativo nesse período é a imitação. Crianças imitam o que está no meio ambiente ao seu redor. Ensinar através do exemplo é a mais efetiva forma de educação do nascimento aos sete anos, porque isso é o imperativo biológico nessa idade. As forças formativas etéricas estão impactando o corpo físico diretamente. Não existe outro tipo de cognição acontecendo, afora o fato de que o cosmos está trabalhando para gestar o corpo etérico. As sensações as quais as crianças experimentam, são nutrição direta para seus órgãos vitais. ( figura de uma grande cabeça )

    17 -Agora, nesse diagrama, eu tentei mostrar uma criança dos 0 aos 7 e Rudolf Steiner, em seu livro "Balance in teaching", nos traz uma interessante imagem. Ele diz que o princípio da cabeça é a área onde há o recebimento das forças cósmicas. Porque a cabeça é realmente onde o portal dos sentidos é mais concentrado. Através do ouvir e ver - principalmente- há um influxo, um constante influxo dessas forças etéricas cósmicas, sob a atividade do Ego que é unido com elas. Uma parte do Eu cósmico está construindo a organização do Eu terreno, aquele que será eventualmente o instrumento das forças vitais do parcial Eu cósmico encarnado. A organização do Eu terreno, está sendo construída pelo Eu cósmico ou Eu verdadeiro, através da união de si mesmo com parte das forças formativas etéricas e trazendo-as em contato com o físico. Existe uma espécie de profunda impressão que o Eu verdadeiro faz; essa impressão foca as forças etéricas no físico. Enquanto isso acontece, a atividade é primariamente focada na região da cabeça. Por causa disso, a criança pequena tem uma grande cabeça. Poderíamos dizer de um jeito engraçado que a cabeça são suas antenas; porque a antena ressoa com o sinal e o sinal vem do cosmos. Isso é o que capacita a criança a atrair e captar forças cósmicas, através dos portões dos sentidos. Essa antenas estão localizadas na cabeça- uma imagem do cosmos que se parece mais ou menos com isso. (figura de uma grande cabeça com raios saindo dela)

    18- As forças cósmicas chegam à cabeça e se derramam profundamente no resto do corpo. Elas não estão lá presentes da mesma maneira que nas crianças mais velhas, porque nas crianças pequenas - abaixo dos sete anos- o Eu está somente parcialmente encarnado nas forças etéricas. As forças etéricas ainda não estão libertas porque o corpo etérico ainda não nasceu. Mas as forças estão lá trabalhando para fazer os órgãos vitais e completar a sua formação. Assim a imagem é essa: o cosmos - vindo da periferia- trabalhando dentro do físico através dos sentidos, depois se aprofundando e plasmando o fígado, o pulmão, rins, coração etc. Mas fígado, coração, rins e pulmão, estão sendo plasmados de uma maneira bem cósmica. Escondidas na fala, na música e no que é visto no meio ambiente da criança, estão as forças que os estão construindo, formando e estruturando. Junto com isso, essas forças etéricas que chegam ao contato com as forças terrenas, também têm a propriedade de degenerar e destruir, porque o corpo etérico, como já dissemos, é como a planta. A planta cresce e decai e isso é o que o corpo etérico faz também.

    19 - Agora chegamos a uma das partes mais difíceis do "Balance in teaching", quando Rudolf Steiner dá a imagem de que o corpo Astral, através das forças musicais, cria o processo que chamamos "edificação". No entanto, em outros lugares, nós veremos que o corpo astral é a fonte das doenças; e isso nos parece contraditório. Mas temos que ser bem precisos quando usamos esses termos, porque eles não são de todo contraditórios. Esses conceitos só requerem, antes de tudo, que se diga: "Isso é sobre o que estou falando nesse estágio em particular; em outro estágio pode mudar algo".

    20- Do nascimento aos 7 anos, o corpo etérico- o corpo etérico gestando- domina. O corpo físico é construído de acordo com padrões gestacionais, mas existe uma turbulência nesse mesmo corpo físico durante a gestação. As mulheres grávidas conhecem um pouco dessa turbulência e mudanças na sua vida durante esse período. Do nascimento aos sete anos acontece o mesmo. Há uma certa turbulência no corpo que está sendo gestado; podemos dizer: uma turbulência etérica. Essa turbulência etérica se manifesta na oscilação entre: "Sim, eu sou um anjo"; "Não, não sou nem um pouco anjo"; e isso ocorre entre 0 e 7 anos. Algumas vezes toda a noite, algumas dia a dia. Outras... hora a hora. A oscilação entre as forças cósmicas muito dinâmicas ou padrões e hábitos já encarnados e extremamente fixos, vai e volta. Isso porque o corpo etérico, quando desce do cosmos e torna-se terreno, é a fonte dos nossos hábitos. Quando esses padrões ou hábitos mais tarde se libertam, com o nascimento do etérico, eles serão a fonte do temperamento. O temperamento pode então tornar-se um problema para o Eu, porque as forças etéricas são fixadas nele pelo hábito e estes podem não ter ainda o acesso aos padrões cósmicos, os quais são necessários para manter o organismo saudável. Quando queremos mudar um hábito, é muito difícil fazê-lo. Isso porque o corpo etérico, bem cedo, é formado por padrões particulares de sensação. As forças terrenas que são dadas para este novo ser que se encarna, através das sensações provocadas pelo meio ambiente, formam padrões na vida dos órgãos, os quais mais tarde, irão tornar-se disposição para o temperamento.

    21 - Existe uma imagem disto que achei muito útil. É a diferença entre a suspensão e a solução. Se tentamos entender as atividades das forças etéricas formativas, podemos pensar em termos do que é a suspensão. Numa suspensão, existe a matéria suspensa num fluído. Não importa quão física seja a matéria _ podemos pulverizar e pulverizar- se a deixamos parada por um momento, a matéria irá "brigar" nessa suspensão e começará depois a precipitar-se no fundo do recipiente. Essa é a oscilação entre forma e degeneração. Quando um ser está iniciando sua manifestação, ele usa as forças periféricas como um jeito de traçar um projeto. As forças formadoras são pura vida e ainda não foram atraídas para a matéria. Esse é o papel da água na suspensão. Mas então, através da formação contínua e da ação do Eu focado num centro relativo, a matéria é atraída para dentro e se torna substância. Uma vez que a matéria está formada, fica submetida às leis terrenas ( às leis físicas). Então a matéria inicia o processo de construir e ampliar-se, chegando até a lei da superfície mínima e à inevitável erupção da membrana na periferia. E é a implosão dos sistemas. O sistema que foi formado quebra-se em minúsculas e minúsculas partes. Isso é queda. Então as partes voltam para a terra. Na linguagem alquímica isso é chamado de processo salino. O sal entra em solução aparente e eleva-se - através da água- a um estado de leveza. Daí a água se retira e o sal retorna exatamente ao que era. Quimicamente isso é suspensão. Numa verdadeira solução, o sal nunca retornaria do estado líquido. Esse sal que nunca decai, seria a atividade das forças musicais. Isso é o que Steiner chama de elevação. Isso é o que chamamos de "cozinhar". De maneira a fazer isso a matéria tem que ser levada a um nível mais e mais elevado de leveza. Amanhã olharemos mais para isso.

    22 - Eu quero trazer essas duas imagens - solução e suspensão- porque elas são úteis quando tentamos imaginar a disposição da criança, o seu modo de ser dos 0 aos 7 anos. Então poderíamos perguntar: Como educadores, o que realmente procuramos? Muito embora não tenhamos uma resposta temperamental - até porque o temperamento ainda não foi realmente formado- há um começo de demonstração de temperamento na formação de um órgão em particular, durante a pré-escola. O 1º colorido do temperamento é dado pelo órgão do corpo que olha para além da vida. Este é o fígado.

    23- O fígado é conectado mais diretamente com as forças etéricas de formação e deterioração que chegam ao ser e então retiram-se dele. Isso é a vida do fígado. No feto e durante todo o desenvolvimento pré natal, o fígado e o thimus são - de longe - os órgãos metabólicos mais dominantes do corpo. Se olharmos a evolução biológica dos reinos inferiores e em especial para um animal que é essencialmente fígado, teremos que percorrer uma série de gêneros até chegar ao crustáceo. O 1º animal em que toda a cavidade abdominal é completamente preenchida com o fígado é o lagostim. O gesto anímico desse animal é: "agora estou crescendo"... "agora estou me escondendo, encolhendo". Ele cresce, cresce e cresce e torna-se tão grande que a lei da superfície mínima surge e sua pele tem que romper-se. Ela se rompe e esse animal tão suculento, sai da pele e busca um buraco para enfiar-se até que outra "concha-pele" se forme e ele deixe de parecer tão saboroso. Então há um lado de crescimento e desenvolvimento e outro de encolhimento que diz: "Estou me fechando e indo para meu buraco". Esse é o ritmo do fígado. Vem do fígado uma espécie de imagem do Sol, embora o fígado se relacione diretamente com Júpiter. Mas o ritmo solar é dia e noite, dia e noite, dia e noite. Isto é: deteriorar ( dia) e crescer ( noite).

    24- O que podemos chamar de modo de ser do fígado ou do lagostim, é a fonte de oscilação nas crianças pequenas. Elas são doces, delicados e gentis, e subitamente, viram-se e atingem a cabeça da irmãzinha com sua boneca. E nos perguntamos: "Como isso pode acontecer?" Quando o fígado domina a consciência há um tremendo crescimento e depois um completo fechamento e um voltar-se para dentro, um descanso e um "cobrir a cabeça". Poderíamos até chamar de depressão. Se essas forças não são encontradas e harmonizadas do nascimento aos 7 anos, se não existe um ritmo diário, então o fígado, na idade adulta, irá tentar voltar a um estágio de desenvolvimento onde possa encontrar no meio ambiente, forças que permitam a ele aproximar-se do arquétipo cósmico. Ele estará procurando por forças rítmicas no seu meio ambiente, que permitam a ele, mais uma vez, entrar em contato com sua própria vida. A menos que isso seja desenvolvido e nutrido pelo meio ambiente da criança entre 0 e 7 anos, o fígado poderá "minar" o resto do desenvolvimento do temperamento dos 7 aos 14 anos e enfim, irromper no Ensino médio e tornar-se depressão na época da alma do intelecto.

    25- Essa é a raiz da depressão. Depressão realmente é uma espécie de urgência por sensação rítmica, por sensação que não é ameaçadora e a qual pode ser assimilada ou, podemos dizer, digerida na vida. Como educadores nós necessitamos ser cuidadosos para que as sensações fortes não venham tão rápido de forma que as crianças não possam digeri-las. Sensações também não podem chegar em conceitos abstratos para as crianças pequenas, pois tão logo os pequeninos sejam desafiados com essas idéias abstratas, haverá uma espécie de concha que se formará ao redor de suas forças vitais. Até em adultos isso acontece. Assim as imagens, movimentos e os sons do meio ambiente das crianças de 0 a 7 anos, precisam ser ritmicamente apresentados com uma sutil percepção de dia e noite, de estação para estação, porque é esse o tipo de força rítmica etérica que o fígado está escutando como uma espécie de digestão cósmica da sensação.

    26- Rudolf Steiner dá uma imagem de que o fígado é um órgão que é como a formação de uma cabeça aprisionada. Ele diz isso nas palestras de fisiologia. E quando você lê isso pela primeira vez diz: " Opa! O que significa isso?" Mas se olharmos para a imagem que eu trouxe primeiramente, da cabeça recebendo forças cósmicas através das sensações; e agora olharmos para o lugar em que o fígado surge no embrião nós entenderemos. O fígado surge no embrião como um receptáculo do sistema digestivo. Ele vive na digestão recebendo impulsos do mundo, através da comida digerida que provém da linfa. Ele escuta- por assim dizer- as sensações do mundo nesses fluidos. O fígado repousa entre toda essa linfa, com esse conteúdo de alimento e o recolhe para dentro. Nesse mar de linfa, existe uma tremenda sensação que está sendo provocada e que vem através dos fluidos linfáticos para os nervos simpáticos da criança. Rudolf Steiner conecta o nervo simpático ao corpo etérico e é nesse corpo etérico que os impactos do sistema são registrados. O sistema nervoso simpático traz de volta o equilíbrio ao sistema que foi sobrecarregado, impactado ou estressado. Assim, o sistema nervoso simpático, especialmente no sistema metabólico, é conectado ao movimento dos membros. Ele reage a abruptos movimentos da sensação, espasmódicos, duros, ameaçadores; e isso tudo é registrado na fisiologia da criança, especialmente nos órgãos metabólicos, como uma espécie de distúrbio etérico. O sistema metabólico então secreta linfa e todo o tipo de secreções reativas que obrigam o fígado a questionar: " Isso está certo? O que é isso ? O que está acontecendo? Está tudo bem? Algo está errado..."

    27 - O fígado, podemos dizer, torna-se atormentado. Está constantemente pensando que algo está errado. O que deveria ser pensado é: "O que está acontecendo em Júpiter hoje?" Isso é o que o fígado está esperando. Se ele não capta Júpiter, acontece simplesmente que a adrenal e o sistema nervoso simpático ficam bombeando secreções que são as respostas ao estímulo e stress do meio ambiente, e então o fígado se incorpora a esse stress na formação das proteínas, porque o fígado é um órgão etérico das forças formativas. Por ser um órgão etérico, é um órgão escultural. O que ele está esculpindo é a proteína a qual mais tarde se torna fígado, rins, pulmão, coração etc. A forma como ele faz isto é escutando a música cósmica e esculpindo as substâncias que chegam a ele, transformando-as em formas úteis para uma fisiologia particular. Então, de certa forma, o fígado é como uma cabeça aprisionada. O que o etérico está escutando é a música das esferas. Ele usa essa música para criar pequenas imagens de Júpiter ( fígado), de Saturno ( ossos), de Vênus (rins) em nosso corpo. Em " Balance in teaching" e outras literaturas, Rudolf Steiner fala do fígado como um órgão característico que realmente precisa ser pensado com muita profundidade pelo professor de jardim. Toda a fisiologia e toda a vida interior da alma que a criança de 0 a sete anos está trazendo para a Terra, é baseada em uma clarividência interior sobre o que está ocorrendo nas secreções dos fluídos do corpo.

    28- O Ego move-se em direção à criança que se encarna. Em sua vida interior, a criança principia a ter memórias de viver entre as estrelas. O meio ambiente impacta seus sentidos. As crianças são parcialmente acordadas, mas não conscientemente acordadas, de como as sensações do meio ambiente adentram nelas e são refletidas pelo seu corpo físico. As sensações do meio ambiente saltam de volta, porque o corpo etérico é muito flexível e fluido. Elas saltam de volta ao cósmico astral. A música das esferas e o cósmico astral dizem:" Eu não reconheço isso( as sensações), não sei o que é. Você pegue isso de volta." E reflete o meio ambiente personalizado por padrões sensórios, de volta para o etérico. E - de repente - o etérico é tomado nessa oscilação entre o astral cósmico e o corpo físico. O corpo etérico não sabe o que fazer com as forças personalizadas. O que ele faz então, é tecer um modelo de movimentos oscilatórios. Esse modelo é chamado adrenalina ou testosterona, ou secreção tireoidiana, ou sucos digestivos. As secreções corporais são uma espécie de modelos de movimentos fixos dos padrões de estímulo-resposta- uma só parte em um milhão de adrenalina no sangue, proveniente dos rins: e todo o corpo estará em turbulência por 15 minutos. A secreção é um movimento individualizado. É uma substância que é um movimento cósmico concentrado. A criança de 0 a 7 anos, está atuando segundo os padrões de suas secreções. É isso que Rudolf Steiner está dizendo. O meio ambiente impacta seus órgãos. O órgão vital tenta acomodar a sensação personalizada, mas como o melhor caminho que ele conhece é criar secreção, que é uma imagem do movimento criativo, ele a envia para o sangue como imagem desse movimento. Por isso pode-se dizer que a criança ouve o seu próprio processo encarnatório, através do corpo etérico. É a criança cósmica de 0 a 7 anos, e ela reproduz o que o padrão estímulo-resposta seria no modo particular do órgão que está secretando. Isso, na linguagem antroposófica pedagógica é chamado de fantasia.

    29- A vida de fantasia da criança é dirigida pelas sensações que estão impactando o corpo etérico; e esse corpo etérico terreno está criando secreções com imagens originadas dos padrões cósmicos formativos. Assim, se há uma reprodução de atuação, o professor olha para o meio ambiente e tenta criar - especialmente para o fígado - uma espécie de massagem rítmica. Dia após dia, após dia, após dia, as coisas são apresentadas e mudadas só um pouquinho e mais um pouquinho, sempre construindo de uma maneira rítmica e permitindo que claras imagens entrem no sono, imagens que possam adormecer com ele. Quanto mais clara for a imagem, mais o fígado pode captá-la. O fígado tem uma consciência um tanto embaçada. Podemos dizer que ele não é totalmente cônscio de si mesmo. É muito mais desperto para o que está chegando a ele. Como resultado, você pode remover ¾ do fígado e ele se regenera. Isso é uma tremenda vitalidade. A característica da vida ( vitalidade) é que ela cresce e se degenera, mas não é incrivelmente consciente ( ou auto-cosnciente). Então, durante a fase de 0 a 7 anos, há uma imensa vitalidade se espraiando através dos sentidos das crianças. A fantasia surge na criança como uma resposta para essas sensações. O educador que olha para o meio ambiente e para o ritmo da sensação, tem que manusear esse ambiente da melhor forma, para ser capaz de curar esse ritmo do fígado de acordar, dormir e sonhar - dia após dia, após dia.

    30- Quando isto acontece no meio ambiente da criança, não haverá uma fome por fantasia quando ele tiver 35 anos. Eles não sucumbirão à grande tentação de lutar para superar,( sobrepujar) a pessoa que está ao seu lado de forma a inundar a ambos com excesso de sensações. A grande luta dos adultos hoje, é transformar - de alguma forma- sua sensibilidade, de maneira a tornarem-se mais conscientes de que são cidadãos do Cosmos, tanto quanto cidadãos da Terra.

     Retirado do site: http://www.espacobemviver.com.br/biblioteca.asp?pTexto=1